Quem são os usuários da Cozinha Solidária? Estudo sobre desigualdades na garantia da segurança alimentar e nutricional a partir da experiência da comunidade do Sol Nascente – Distrito Federal, Brasil
Palavras-chave:
Insegurança alimentar, Organização não governamental, Fatores socioeconômicos, SolidariedadeResumo
Objetivo
Analisar o perfil demográfico e socioeconômico dos usuários do projeto Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto no Sol Nascente, Distrito Federal, Brasil.
Métodos
Estudo descritivo do tipo transversal. As entrevistas foram realizadas com adultos, usuários da cozinha solidária, em agosto de 2022, a partir de um questionário padronizado contendo informações demográficas e socioeconômicas, sobre moradia e alimentação. O desfecho do estudo foi considerado Consumo Frequente (pegar comida na cozinha solidária nos cinco dias da semana: sim/não). Foram conduzidas as análises descritivas geral e por sexo, e bivariadas a partir do Teste qui-quadrado (p<0,05).
Resultados
A amostra de 83 indivíduos foi composta predominantemente por mulheres, pretas e pardas, com idade média de 39,6 anos (DP=14,6). Onde 42,2% cursaram o 1º ano do ensino médio ou mais e aproximadamente 65% recebiam até um salário-mínimo. A maioria recebia benefício social e 81,9% estava desempregada no momento da entrevista. Mais da metade dos entrevistados possuíam casa própria e, entre os que não tinham, 64,0% pagavam aluguel. O número de refeições diárias foi de até duas para 46,3% dos entrevistados. A prevalência de usuários que tinham Consumo Frequente foi 61%. As mulheres relataram menor renda familiar, maior dependência de auxílios, maior desemprego, além de residirem com mais pessoas, os quais pegavam mais comida da cozinha solidária, sendo todas diferenças estatisticamente significativas.
Conclusão
O projeto atende essencialmente mulheres, pretas e com menor renda familiar, corroborando o panorama das desigualdades e iniquidades no acesso à alimentação no país.
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