Dieta e câncer gástrico: aspectos históricos associados ao padrão de consumo alimentar no estado do Pará
Palavras-chave:
dieta, farinha de mandioca, neoplasias gástricas, salResumo
O câncer gástrico ainda constitui importante problema de saúde pública no estado do Pará, onde as taxas de mortalidade apresentam valores acima da média brasileira. As bases históricas de ocupação de espaço na Amazônia, bem como as relações econômico-sociais estabelecidas ao longo desse processo, marcaram o padrão alimentar desse Estado. Este trabalho tem por objetivo reconstruir as principais características do padrão alimentar dessa população no século passado. Procurou-se identificar todas as publicações científicas disponíveis que relacionavam dados sobre os hábitos alimentares dos residentes do Pará no século XX. A partir dessas publicações, foi possível caracterizar o padrão alimentar da população paraense no século XX, que incluía um elevado consumo de sal, utilizado na conservação de carnes e frutos do mar, um consumo relativamente reduzido e irregular de legumes e verduras e uma importante ingestão de glicídios, a partir da farinha de mandioca, muitas vezes adicionada de corantes artificiais. O padrão de dieta retratado, provavelmente comum a outras regiões da Amazônia, pode ser caracterizado, com base na literatura científica, como potencialmente favorecedor de certas condições associadas à carcinogênese gástrica. Nesse sentido, ele
poderia ter contribuído, em parte, para a alta mortalidade por essa neoplasia registrada na região Norte.
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