Comida de rico, comida de pobre em “Sobrados e mucambos”: uma revisão narrativa da obra de Gilberto Freyre

Autores

  • Francisco de Assis Guedes de VASCONCELOS Universidade Federal de Santa Catarina

Palavras-chave:

Sociedade brasileira, Hábitos alimentares, Literatura, Revisão

Resumo

O presente artigo tem por objetivo realizar uma revisão narrativa do livro “Sobrados e mucambos”, escrito pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, com primeira edição publicada em 1936. Procurou-se analisar a contribuição do autor no processo de interpretação da formação e modificação dos hábitos e padrões alimentares da sociedade brasileira. A presente análise limita-se a uma revisão, sob o olhar do nutricionista, dos recortes textuais onde Freyre procura reconstituir e interpretar o processo de formação e modificação dos hábitos e padrões alimentares no contexto da sociedade patriarcal. Busca-se responder à seguinte questão: o quê, quanto, como, quando, onde e com quem comiam os habitantes dos sobrados e mucambos? Ao realizar uma contraposição entre os hábitos alimentares da sociedade patriarcal rural com aqueles da emergente sociedade patriarcal urbana, observou-se nítida tendência a aversão, por parte de Freyre, em relação à “europeização” dos hábitos alimentares e, em contrapartida, de afeição aos valores culinários tradicionais. Os novos hábitos alimentares dos sobrados e casas grandes foram retratados com estranhamento, denotando um autor preso às tradições culinárias da sociedade patriarcal rural, aos sabores de memória, sobretudo dos doces, bolos e sobremesas inventados, adaptados e degustados nos engenhos de Pernambuco.

Referências

Teixeira LA. Da raça à doença em Casa-Grande e senzala. Hist Ciênc Saúde. 1997; 4(2):231-43.

Vasconcelos FAG. Fome, eugenia e constituição do campo da nutrição em saúde pública em Pernam buco: uma análise de Gilberto Freyre, Josué de Castro e Nelson Chaves. Hist Ciênc Saúde. 2001; 8(2):315-39.

Bastos ER. Raízes do Brasil: sobrados e mucambos: um diálogo. Perspectivas. 2005; 28:19-36.

Tempass MC. Os grupos indígenas e os doces brasi leiros. Espaço Ameríndio. 2008; 2(2):98-114.

Barbato LFT. Da casa-grande ao mucambo: Gilberto Freyre e as origens do caráter nacional brasileiro. Rev Hist. 2010; 2(1):56-66.

Santos RL. Algumas considerações sobre o negro e o índio na Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre. Rev Espaço Acad. 2012; 12(138):113-20.

Oliveira EC. Os subterrâneos de sobrados e mu cambos: análise historiográfica das notas de rodapé. Rev Hist. 2013; 2(2):46-68.

Braudel F. A través de un continente de história: Brasil y la obra de Gilberto Freyre. Rev Mex Sociol. 1999; 61(2):167-87.

Lehmann D. Gilberto Freyre: The reassessment continues. Lat Am Res Rev. 2008; 43(1):208-18.

Celarent B. The masters and the slaves by Gilberto Freyre. Am J Sociol. 2010; 116(1):334-9.

Brochier C. Le Concept de “démocratie raciale” dans L’Histoire Intellectuelle Brésilienne. Rev Synth. 2014; 135(1):123-50.

Freyre G. Casa-grande e senzala. 34ª ed. Rio de Janeiro: Record; 1998.

Freyre G. Sobrados e mucambos. 12ª ed. Rio de Janeiro: Record; 2000.

Freyre G. Casa-grande e senzala: edição come morativa - 80 anos. São Paulo: Global; 2013.

Nitschack H. Gilberto Freyre y Sérgio Buarque de Holanda: mestiçagem y cordialidade como estrategias de convivencia. Rev Chil Lit. 2014; (88):173-98.

Souza J. Gilberto Freyre e a singularidade cultural brasileira. Tempo Social Rev Sociol. 2000; 12(1):69-100.

Tavolaro SBF. Gilberto Freyre e nossa “modernidade tropical”: entre a originalidade e o desvio. Sociolo gias. 2013; 15(33):282-317.

Hernández JC, Arnáiz MG. Alimentación y cultura: perspectivas antropológicas. Barcelona: Editorial Ariel; 2005.

Diez-Garcia RW, Castro, IRR. A culinária como obje to de estudo e de intervenção no campo da Ali mentação e Nutrição. Ciênc Saúde Colet. 2011; 16(1):91-8.

Bourdieu P. Para uma sociologia da ciência. Lisboa: Biblioteca 70; 2008.

Kuhn TS. O caminho desde a estrutura. São Paulo: Unesp; 2006.

Castells M. A sociedade em rede: a era da informa ção: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra; 1999.

Freyre G. Manifesto regionalista de 1926. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura; 1955 [acesso 2014 dez 18]. Disponível em: http:// icaadocs.mfah.org/icaadocs/THEARCHIVE/Full Record/tabid/88/doc/1074787/language/en-US/ Default.aspx

Castro J. Geografia da fome (o dilema brasileiro: pão ou aço). 10ª ed. Rio de Janeiro: Antares Achiamé; 1980.

Cascudo LC. História da alimentação no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Global; 2011.

Vasconcelos FAG. Josué de Castro e a geografia da fome no Brasil. Cad Saúde Pública. 2008; 24(11):2710-7.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [acesso 2015 5 fev]. Disponível em: http://portalsaude. saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Miolo-PDF Internet.pdf

Freyre G. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. 7ª ed. São Paulo: Global; 2004.

Freyre G. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. 5ª ed. São Paulo: Global; 2007.

Vasconcelos FAG, Santos LMP. Tributo a Manoel da Gama Lobo (1835-1883), pioneiro na epide miologia da deficiência de vitamina A no Brasil. Hist Ciênc Saúde. 2007; 14(4):1341-56.

Vasconcelos FAG, Batista Filho M. História do campo da alimentação e nutrição em saúde coletiva no Brasil. Ciênc Saúde Colet. 2011; 16(1):81-90.

Vasconcelos FAG. Tendências históricas dos estudos dietéticos no Brasil. Hist Ciênc Saúde. 2007; 14(1):197-219.

Downloads

Publicado

23-03-2023

Como Citar

de Assis Guedes de VASCONCELOS, F. . (2023). Comida de rico, comida de pobre em “Sobrados e mucambos”: uma revisão narrativa da obra de Gilberto Freyre. Revista De Nutrição, 29(2). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/8019

Edição

Seção

ARTIGOS DE REVISÃO