Hipertensão, obesidade abdominal e baixa estatura: aspectos da transição nutricional em uma população favelada

Autores/as

  • Haroldo da Silva FERREIRA Universidade Federal de Alagoas
  • Telma Maria Toledo de Menezes FLORÊNCIO Universidade Federal de Alagoas
  • Mariellena de Andrade Cardoso FRAGOSO Universidade Federal de Alagoas
  • Fabiana Palmeira MELO Universidade Federal de Alagoas
  • Taciana Gissely da SILVA Universidade Federal de Alagoas

Palabras clave:

baixa estatura, hipertensão, mulheres, sobrepeso, transição nutricional

Resumen

Objetivo
Investigar, em mulheres de muito baixa renda, a prevalência e a associação entre a baixa estatura, o sobrepeso, a obesidade abdominal e a hipertensão arterial, discutindo os achados, segundo o processo de transição nutricional e a hipótese da programação fetal (hipótese Barker).

Métodos
Foram estudadas 223 mulheres de 18 a 65 anos, por meio dos seguintes indicadores: índice de massa corporal (kg/m2) ≥25 para sobrepeso + obesidade ou <18,5 para magreza; razão cintura-quadril ≥0,8 para obesidade abdominal; pressão arterial sistólica e/ou diastólica ≥140/90mmHg para hipertensão; percentil 25 (1º quartil) para baixa estatura.

Resultados
A prevalência de sobrepeso + obesidade (35,9%) foi superior à de magreza (9,4%). A pressão diastólica associou-se com o índice de massa corporal (r=0,37; IC 95%: 0,01 <r2 <0,26) e com a razão cintura-quadril (r=0,35; IC 95%: 0,01 <r2 <0,25). Comparando-se os 1º e 4º quartis de estatura, encontraram-se os seguintes resultados, respectivamente, para a prevalência de hipertensão: 23,3% e 8,9% (odds ratio=3,08; p=0,03); para sobrepeso + obesidade: 41,7% e 35,7% (p=0,51); para o índice de massa corporal médio: 24,6 e 23,7 (p=0,27); para a média da razão cintura-quadril: 0,87 e 0,85 (p=0,04).

Conclusão
A prevalência de sobrepeso/obesidade foi menor do que a de desnutrição. A baixa estatura, um indicador de desnutrição no início da vida, foi um importante fator de risco para a hipertensão arterial e para a obesidade abdominal. Apesar da miséria, a população parece estar passando pelo processo de transição nutricional. Os mecanismos resultantes da adaptação metabólica à desnutrição imposta no início da vida, parecem desempenhar importante papel na determinação desses achados.

Citas

Monteiro CA, Benício MH, Iunes R, Gouveia NC. Nutritional status of Brazilian children: Trends from 1975 to 1989. Bull World Health Organ. 1992; 70:657-66.

Sawaya AL. Transição: desnutrição energético- -protéica e obesidade. In: Sawaya AL, organizador. Desnutrição Urbana no Brasil em um período de transição. São Paulo: Cortez; 1997. p.35-61.

Popkin BM. Nutritional patterns and transitions. Popul Dev Rev. 1993; 19:138-57.

Monteiro CA, Mondini L, Souza ALM, Popkin BM. Da desnutrição para obesidade: a transição nutricional no Brasil. In: Monteiro CA. Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e suas doenças. São Paulo: Hucitec; 1995. p.247-55.

Monteiro CA, Conde WL. A tendência secular da obesidade segundo estratos sociais: Nordeste e Sudeste do Brasil, 1975-1989-1997. Arq Bras Endocrinol Metab. 1999; 43:186-94.

Ferreira HS. Desnutrição: magnitude, significado social e possibilidade de prevenção. Maceió: Universidade Federal de Alagoas; 2000.

Barker DJP. Mothers, babies and disease in later life. London: British Medical Journal Books; 1994.

Doll S, Paccaud F, Bovet P, Burnier M, Wietlisbach V. Body mass index, abdominal adiposity and blood pressure: Consistency of their association across developing and developed countries. Int J Obes Relat Metab Disord. 2002; 26:48-57

Gus M, Moreira LB, Pimentel M, Gleisener ALM, Moraes RS, Fuchs FD. Associação entre Diferentes Indicadores de Obesidade e Prevalência de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 1998; 70:111-4.

Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Ann Arbor: University of Michigan Press; 1990.

Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, III – 1998 [Internet]. São Paulo: Sociedade Brasileira de Hipertensão, 1998 [citado 2002 out 30]. Disponível em: http://www.sbh.org.br/documentos/consenso3_documento.htm

World Health Organization. Obesity, Preventing and Management the Global Epidemic. Report of a WHO consultation on obesity. Geneva; 1997.

Keenan NL, Strogatz D S, James A S, Ammerman A S, Rice B L. Distribution and correlates of waist-tohip ratio in black adults: The Pitt County Study. Am J Epidemiol. 1992; 135:678-84.

Hoffmann R. Pobreza, insegurança alimentar e desnutrição no Brasil. Estudos Avançados. 1995; 9:159-72.

Batista Filho M, Rissin A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad Saúde Pública. 2003; 19 Suppl 1:S181-91.

Kuh DL, Powert C, Rodgers B. Secular trends in social class and sex differences in adult height. Int J Epidemiol. 1991; 20:1001-9.

Parker DR, Lapane KL, Lasater TM, Carleton RA. Short stature and cardiovascular disease among men and women from two southeastern New England communities. Int J Epidemiol. 1998; 27:970-5.

Sichieri R, Siqueira KS, Pereira RA, Ascherio A. Short stature and hypertension in the city of Rio de Janeiro, Brazil. Public Health Nutr. 1999; 3: 77-82

Hoffman DJ, Sawaya AL, Verreschi I, Tucker KL, Roberts SB. Why are nutritionally stunted children at increased risk of obesity? Studies of metabolic rate and fat oxidation in shantytown children from São Paulo, Brazil. Am J Clin Nutr. 2000; 72:

-7.

Barker DJP, Gluckman PD, Godfrey KM, Harding JE, Owens JÁ, Robinson JS. Fetal nutrition and cardiovascular disease in adult life. Lancet. 1993; 341:938-41.

Longo-Mbenza B, Ngiyulu R, Bayekula M, Vita EK, Nkiabungu FB, Seghers KV, et al. Low birth weight and risk of hypertension in African school children. J Cardiovasc Risk. 1999; 6:311-4.

Gastin PS, Walker SP, Forerster TE, Grantham- -McGregor SM. Early linear growth retardation and later blood pressure. Eur J Clin Nutr. 2000; 54: 563-7.

Hauner H, Stangl K, Schmatz C, Burger K, Blomer H, Pfeiffer EF. Body fat distribution in men with angiographically confirmed coronary artery disease. Atherosclerosis. 1990; 85:203-10.

Folin M, Contiero E. Relationship between subcutaneous fat distribution and serum lipids and blood pressures in Italian men. Am J Hum Biol. 1994; 4:457-63.

Pereira RA, Sichieri R, Marins VMR. Razão cintura/quadril como preditor de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública.1999;15:333-44.

Velásquez-Meléndez G, Martins IS, Cervato AM, Fomes NS, Marucci MF, Coelho LT. Relationship between stature, overweight, and central obesity in adult population, in São Paulo, Brazil. Int J Obes Relat Metab Disord.1999; 23:639-44.

Sichieri R, Siqueira KS, Moura AS. Obesity and abdominal fatness associated with undernutrition early in life in a survey in Rio de Janeiro. Int J Obes Relat Metab Disord. 2000; 24:614-8.

Sawaya AL, Dallal G, Solymos G, Souza MH, Ventura ML, Roberts SB, et al. Obesity and malnutrition in a shantytown population in the city of São Paulo, Brazil. Obes Res. 1995; Suppl 2:S107-15.

Sawaya AL, Grillo LP, Verresshci I, Silva AC, Roberts SB. Mild stunting is associated with higher susceptibility to the effects of high fat diets: Studies in a Shantytown population in São Paulo, Brazil. J Nutr. 1998; 128:415-20.

Dressler WW, Santos JE. Social and cultural dimensions of hypertension in Brazil: a review. Cad Saúde Pública. 2000; 16:303-15.

Florêncio TT, Ferreira HS, França APT, Cavalcante JC, Sawaya AL. Obesity and undernutrition in a very-low-income population in the city of Maceió, northeastern Brazil. Br J Nutr. 2001; 86:277-83.

Ferreira HS, Omena Filho JM, Barros APC, Paes CAMC. Nutrição e saúde de idosos segundo o nível socioeconômico. Rev Hospital Universitário da UFAL. 2002; 6:10-3.

Florêncio TT, Ferreira HS, Cavalcante JC, Luciano SCM, Sawaya AL. Food consumed does not account for the higher prevalence of obesity among stunted adults in a very low income population in the Northeast of Brazil (Maceió - Alagoas). Eur J Clin Nutr. 2003; 57:1437-46.

Publicado

2023-09-21

Cómo citar

da Silva FERREIRA, H. ., Toledo de Menezes FLORÊNCIO, T. M. ., de Andrade Cardoso FRAGOSO, M., Palmeira MELO, F. ., & da SILVA, T. G. (2023). Hipertensão, obesidade abdominal e baixa estatura: aspectos da transição nutricional em uma população favelada. Revista De Nutrição, 18(2). Recuperado a partir de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/9821

Número

Sección

ARTIGOS ORIGINAIS