Frutas, legumes e verduras: recomendações técnicas versus constructos sociais

Autores

  • Fabio da Silva GOMES Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Palavras-chave:

cultura, programas e políticas de nutrição e alimentação, risco, sociologia, vegetais

Resumo

Recomendações e prescrições de metas à população, muitas vezes, são construídas apenas com base em definições técnico-científicas, ignorando processos sócio-construtivos dos riscos que envolvem valores, percepções e experiências. Dessa forma, barreiras importantes podem dificultar o avanço de políticas de implementação dessas recomendações. Este artigo apresenta contribuições multidisciplinares à construção de recomendações e metas prescritas, essencialmente no que tange ao consumo de frutas, legumes e verduras, discutindo sobre algumas barreiras psicossociais e macro-estruturais para o consumo desses alimentos e suas implicações para as intervenções de base populacional. Assumindo um propósito reflexivo, o artigo conduz uma revisão crítica analisando a problemática em questão à luz de teorias estruturalistas sobre a construção social do risco. Recomendações e prescrições de metas definidas foram analisadas considerando o risco, seus determinantes sociais, componentes e conceitos agregados como fatores multidimensionais. Lições importantes extraídas da revisão incluem: 1) a necessidade de incorporar as contribuições populares à definição da agenda, conteúdo, estratégias de comunicação e implementação da política de alimentação; 2) a essencialidade da retomada dos aspectos não-nutricionais do alimento como componentes indispensáveis à valorização e promoção do consumo de frutas, legumes e verduras; e 3) a necessidade de adotar um conceito de alimentação saudável, que acompanhe a amplitude do conceito de saúde. A análise indica que as mensagens devem aproximar-se mais da valorização da cultura e tradição, evitando referências à alimentação saudável, essencialmente ou exclusivamente baseadas em nutrientes, doenças, longevidade e sofisticação. 

Referências

World Health Organization. Resolution WHA57.17. Global strategy on diet, physical activity and health. Proceedings of the 57th World Health Assembly; 2004 22 May. Geneva: WHO; 2004.

World Health Organization. The World Health Report 2003. Shaping the future. Geneva: WHO; 2003.

World Health Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva: WHO; 1990.

Lock K, Pomerleau J, Causer L, Altmann DR, McKee M. The global burden of disease attributable to low consumption of fruit and vegetables: implications for the global strategy on diet. Bull World Health Organ. 2005; 83(2):100-8.

World Health Organization. Food and Agricultural Organization of the United Nations. Expert Report on Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases. Geneva: World Health Organization/Food and Agricultural Organization of the United Nations; 2003. WHO Technical Report Series 916.

Vainio H, Bianchini F. IARC Handbooks of cancer prevention: fruit and vegetables. Lyon: IARC Press; 2003.

Renn O. Concepts of risk: a classification. In: Krimsky S, Golding D, editors. Social theories of risk. London: Praeger; 1992.

Giddens A. The Consequences of modernity. Cambridge: Polity Press; 1990.

Douglas M, Wildavsky A. Risk and culture. An essay on the selection of technical and environmental dangers. Berkeley: University of California Press; 1982.

Wildavsky A. Public policy. In: Davis B, editor. The genetic revolution: scientific prospects and public perceptions. Baltimore: The John Hopkins University Press; 1991.

Freire P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra; 1993.

Mezirow J. Fostering critical reflection in adulthood. San Francisco: Jossey-Bass Publishers; 1991.

Kriflik LS, Yeatman H. Food scares and sustainability: a consumer perspective. Health Risk Soc. 2005; 7(1):11-24.

Frewer LJ, Howard C, Hedderley D, Shepherd R. What determines trust in information about food related risks? Underlying psychological constructs. Risk Anal. 1996; 16(4):473-86.

Frewer LJ, Miles S. Temporal stability of the psychological determinants of trust: Implications for communication about food risks. Health Risk Soc. 2003; 5(3):259-71.

Smith AP, Young JA, Gibson J. Consumer information and BSE: credibility and edibility. Risk Decis Policy. 1997; 2(1):41-51.

Gutteling JM, Wiegman O. The source of risk messages. In: Gutteling JM, Wiegman O, editors. Exploring risk communication. The Netherlands: Kluwer Academic Publishers; 1996.

Peters RG, Covello VT, McCallum DB. The determinants of trust and credibility in environmental risk communication: an empirical study. Risk Anal. 1997; 17(1):43-54.

Renn O, Levine D. Credibility and trust in risk communication. In: Kasperson RE, Stallen PJM, editors. Communicating risks to the public. The Netherlands: Kluwer Academic Publishers; 1991.

Johnson B. Exploring dimensionality in the origins of hazard-related trust. J Risk Res. 1999; 2(4): 325-54.

Veríssimo LF. A mesa voadora. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001.

Elias N. O processo civilizador 1: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1994.

Frank A. For a sociology of the body: an analytical review. In: Featherstone M, Hepworth M, Turner BS, editors. The body social process and cultural theory. London: Sage; 1992.

Halkier B. Risk and food: environmental concerns and consumer practices. Int J Food Sci Tech. 2001; 36(5):801-12.

Foucault M. The History of Sexuality. Harmondsworth: Penguin Books; 1978.

Food and Agricultural Organization of the United Nations. Increasing fruit and vegetable consumption becomes a global priority [cited 2006 Mar 27]. Available from: http://www.fao.org/english/newsroom/focus/2003/fruitveg1.htm

World Cancer Research Fund. American Institute for Cancer Research. Food, nutrition and the prevention of cancer: a global perspective. Washington (DC): American Institute for Cancer Research; 1997.

Centers for Disease Control and Prevention. National 5 A Day Partnership Plan 2001-2004. Atlanta: National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion; 2002.

Department of Health. The NHS Plan: a plan for investment. A plan for reform. London: The Stationery Office; 2000.

Kuhn TS. A estrutura das revoluções científicas. 5a. ed. São Paulo: Perspectiva; 1993.

Giddens A. In Defence of sociology: essays, interpretations, and rejoinders. Cambridge: Polity Press; 1996.

Boyer P. Tradition as truth and communication. Cambridge: Cambridge University Press; 1990.

Weber M. Economy and society. Berkeley: University of California Press; 1978.

Valla VV. Procurando compreender a fala das classes populares. In: Valla VV, organizador. Saúde e Educação. Rio de Janeiro: DP&A; 2000.

Peregrino M. Picada, beco, vielas: caminhos do saber [dissertação]. Niterói: Universidade Federal Fluminense; 1995.

Cunha MB. Parque proletário, grotão e outras moradas: saber e história nas favelas da Penha [dissertação]. Niterói: Universidade Federal Fluminense; 1995.

Gomes FS. Segurança alimentar e nutricional. In: Gomes FS, organizador. Culinária social. Rio de Janeiro: Instituto Victus; 2004.

Castro J. Geografia da fome. Rio de Janeiro: Cruzeiro; 1946.

Valente FLS. Do combate à fome à segurança alimentar e nutricional: o direito à alimentação adequada. In: Valente FLS, editor. Direito humano à alimentação: desafios e conquistas. São Paulo: Cortez; 2002.

Garcia RWD. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana. Rev Nutr. 2003; 16(4): 483-92.

Bruno M. Crescimento econômico, mudanças estruturais e distribuição, as transformações do regime de acumulação no Brasil - uma análise regulacionista [tese]. Paris e Rio de Janeiro: École des Hautes Études en Sciences Sociales e Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2002.

García M, Fernández E, Borràs JM, Nieto FJ, Schiaffino A, Peris M, et al. Cancer risk perceptions in an urban Mediterranean population. Int J Cancer. 2005; 117(1):132-6.

Williams PRD, Hammitt JK. Perceived risk of conventional and organic produce: pesticides, pathogens and natural toxins. Risk Anal. 2001; 21(2):319-30.

Nyland LG. Risk Perception in Brazil and Sweden. RHIZIKON: risk research report No. 15. Stockholm: Stockholm School of Economics; 1993.

Bronfman NC, Cifuentes LA. Risk perception in a developing country: the case of Chile. Risk Anal. 2003; 23(6):1271-85.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretoria de alimentos e toxicologia. Gerência geral de toxicologia. Controlando os agrotóxicos nos alimentos. Relatório de Atividades 2001-2004. Brasília: Anvisa; 2005.

Low F, Lin HM, Gerrard JA, Cressey PJ, Shaw IC. Ranking the risk of pesticide dietary intake. Pest Manag Sci. 2004; 60(9):842-8.

Nóbrega AW. Um esforço para garantir a segurança alimentar nacional: o programa de análise de resíduos de agrotóxicos - PARA. In: Peres F, Moreira JC, organizadores. É veneno ou é remédio: agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003.

Baudrillard J. Le Systéme des objets: la consommation des signes. Paris: Denoel/Gonthier; 1968.

Baudrillard J. Simulations. New York: Semiotext(e); 1983.

Gomes FS, Azeredo RR, Ramos RG, Gugelmin SA. Saucepan Revelry: Nourishing Citizenship. Proceedings of the 2nd International Conference on Local and Regional Health Programmes; 2004 Oct; Canada, Québec; 2004. Abstract 165. Available from: http://archives.colloquequebec2004.com/Detail.aspx?lang=EN&actNo=308

Draper A, Green J. Food safety and consumers: constructions of choice and risk. Social Policy Adm. 2002; 36(6):610-25.

Downloads

Publicado

15-09-2023

Como Citar

da Silva GOMES, F. . (2023). Frutas, legumes e verduras: recomendações técnicas versus constructos sociais. Revista De Nutrição, 20(6). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/9721