O comércio e a segurança de ovos de codorna em praias de Salvador (BA): um estudo na perspectiva do trabalho infantil

Autores

  • Permínio Oliveira VIDAL JÚNIOR Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
  • Ryzia de Cassia Vieira CARDOSO Universidade Federal da Bahia
  • Larissa Santos ASSUNÇÃO Universidade Federal da Bahia

Palavras-chave:

Trabalho de menores, Ovos, Comida de rua

Resumo

Objetivo
Este estudo buscou caracterizar o comércio e a qualidade microbiológica de ovos de codorna cozidos, na orla de Salvador, Bahia, na perspectiva do trabalho infantil.

Métodos
Realizou-se estudo transversal, com aplicação de questionários semi-estruturados, junto a 40 vendedores menores de idade, e análise microbiológica de 40 amostras, submetidas aos procedimentos que seguem: contagem de micro-organismos aeróbios mesófilos, estafilococos coagulase-positiva e estimativa do número mais provável de coliformes totais e termotolerantes/Escherichia coli e pesquisa de Salmonella spp. Os resultados foram comparados com padrões da Resolução RDC n° 12/2001, Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Resultados
Os vendedores eram predominantemente meninas (57,5%), tinham faixa etária entre 8 e 17 anos e estudavam (95.0%). A complementação da renda familiar foi a razão mais apontada para o trabalho (57,5%), sendo a renda média na atividade de R$38,31/dia. A maioria não observava requisitos de higiene pessoal, porém considerou que os alimentos poderiam veicular doenças. Quanto à frequência de lavagem das mãos, a maioria (47,5%) declarou lavá-las até duas vezes/dia. As contagens de micro-organismos aeróbios mesófilos e estafilococos coagulase-positiva registraram valores médios de 2,43 e 2,01 log unidade formadora colônia/g, respectivamente, enquanto a estimativa de termotolerantes foi de 0,98 log número mais provável/g; identificou-se Escherichia coli em 15,0% das amostras e ausência de Salmonella spp. Entre as amostras, 55,0% classificaram--se como não conformes.

Conclusão
Os resultados evidenciam a inclusão de menores de idade no comércio de ovos de codorna, nas praias e sugerem riscos aos consumidores, devido à contaminação registrada e ao desconhecimento dos vendedores quanto aos princípios de higiene. 

Referências

Cardoso RCV, Pimentel SSP, Moreira LN, Santana CS, Cerqueira SC. Comida de rua: desvendando o mundo do trabalho e a contribuição social e econômica da atividade em Salvador (BA). Conjunt Planej. 2005; 137(10):45-51.

Bezerra ACD. (Organizador). Alimentos de rua no Brasil e saúde pública. São Paulo: Annablume; 2008.

Cardoso RCV, Santos SMC, Silva EO. Comida de rua e intervenção: estratégias e propostas para o mundo em desenvolvimento. Ciên Saúde Coletiva. 2009; 14(4):1215-24.

Góes JAW. Consumo de alimentos de rua em Salvador: o que é que a baiana(o) tem? Bahia Análise de Dados. 1999; 9(2):89-92.

International Labour Organization. Facts on children working in the streets: International Programme on the Elimination of Child Labour (IPEC). Geneva; 2003.

Bezerra ACD, Reis RB, Bastos DHM. Microbiological quality of hamburgers sold in the streets of Cuiabá (MT), Brazil and vendor hygiene-awareness. Ciênc Tecnol Aliment. 2010; 30(2):520-4. doi: 10.1590/S0101-20612010000200035.

Sereno HR, Cardoso RCV, Guimarães AG. O comércio e a segurança do acarajé e complementos: um estudo com vendedores treinados em boas práticas. Rev Inst Adolfo Lutz. 2011; 70(30):354-61.

Meneses RB, Cardoso RCV, Guimarães AG, Góes JAW, Silva AS, Argolo SV. O comércio de queijo de coalho na orla de Salvador, Bahia: trabalho infantil e segurança de alimentos. Rev Nutr. 2012; 25(3): 381-92. doi: 10.1590/s1415-52732012000300008.

Omemu AM. Aderoju ST. Food safety, knowledge and pratices of street food in the city of Abeokuta. Food Control. 2008; 19(4):396-402.

Sobral FES, Brandão PA, Marques DD, Brito ICA. Caracterização do consumidor de ovos de codorna no município de Patos (PB). Rev Agropec Científica Semi-Árido. 2009; 5(1):62-6.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. De 2006 para 2007, a produção de leite cresce 2,9%; e a de ovos,1,1%. In: Sala de Imprensa. Brasilia: IBGE; 2008 [acesso 2009 out 9]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=

&id>.

Piccinin A, Van Onselen VJ, Malhado CHM, Pavan AC, Silva AP, Gimenez JN, et al. Técnicas de conservação da qualidade de ovos de codorna (Coturnix coturnix japonica). Revista Cient Prod. Animal. 2005; 7(2):52-9.

Jones DR, Musgrove MT, Northcutt JK. Variations in external and internal microbial populations in Shell eggs during extended storage. J Food Prot. 2004; 67(12):2657-60.

De Reu K, Grijspeerdt K, Heyndrickx M, Uyttendaele M, Herman L. The use of total aerobic and Gramnegative flora for quality assurance in the production chain of consumption eggs. Food Control. 2005; 16:147-55.

Aragon-Alegro LC, Souza KLO, Costa Sobrinho OS, Landgraf M, Destro MT. Avaliação da qualidade microbiológica de ovo integral pasteurizado produzido com e sem a etapa de lavagem no processamento. Ciênc Tecnol Aliment. 2005; 25(3): 618-622. doi: 10.1590/S0101-20612005000300036.

United State. Department of Agriculture. Fact sheets: Eggs products preparation. Washington (DC): USDA; 2008 [cited 2010 Mar 11]. Available from: <http://www.fsis.usda.gov/fact_sheets/Focus_On_Shell_Eggs>.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: síntese de indicadores sociais. Brasília: IBGE; 2003 [acesso 2010 mar 4]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.brhome/estatistica/sinteseindicsociais2003/default.shtm>.

Garin B, Aidara A, Spiegel A, Arrive P, Bastaraud A. Multicenter study of street foods in 13 towns on four continents by the food and environmental network of pasteur and associated institutes. J Food Prot. 2002; 65(1):146-52.

Downes FP, Ito K, Editors. Compendium of methods for the microbiological examination of foods. 4th ed. Washington (DC): APHA; 2001.

The International Organization for Standardization: ISO 6887-4. Microbiology of food and animal feeding stuffs: Preparation of test samples, initial suspension and decimal dilutions for microbiological examination - Part 4: Specific rules for the preparation of products other than milk and milk products, and fish and fishery products. Geneva: ISO; 2003.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre os padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da Republica. 2001 3 jan; Seção 1, pt. 1 [acesso 2009 out 9]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>.

Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 196. Diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: CNS; 1996.

Facchini LA, Fassa AG, Dall’agnol M, Maia MFS. Trabalho infantil em Pelotas: perfil ocupacional e contribuição à economia. Ciên Saúde Coletiva. 2003; 8(4):953-61.

Barros ES. Criança na feira de São Joaquim: trabalho e exploração [mestrado]. Salvador: Universidade Federal da Bahia; 2008.

Carvalho IMM. O trabalho infantil no Brasil contemporâneo. Cadernos CRH. 2008; 21(54):551-69. doi:

1590/S0103-49792008000300010.

Bromley RDF, Mackie PK. Child experiences as street traders in Peru: Contributing to a reappraisal for working children. Children’s Geographies. 2009; 7(2):141-58. doi: 10.1080/14733280902798852.

Acho-Chi C. The mobile street food service practice in urban economy of Kumba, Cameroon. Singapore J Tropical Geography. 2002; 23(2):131-48.

Schwartzman S. Trabalho infantil no Brasil. Brasília: Organização Internacional do Trabalho; 2001.

Togunde D, Carter A. Socioeconomic causes of child labor in urban Nigeria. J Children Poverty. 2006; 12(1):73-89.

Audu B, Geidam A, Jarma H. Child labor and sexual assault among girls in Maiduguri, Nigeria. Inter J Gynecol Obstetr. 2009; 101(1):64-7.

Rodrigues LD. O trabalho infantil na visão da escola: um estudo exploratório do tema [mestrado]. Niterói: UFF; 2004.

Oliveira DC, Fisher FM, Amaral MA, Teixeira MCTV, Sá CP. A positividade e a negatividade do trabalho nas representações sociais de adolescentes. Psicol Reflexão Crítica. 2005; 18(1):125-33.

Vieira MG. Trabalho infantil no Brasil: questões culturais e políticas públicas [mestrado]. Brasília: UnB; 2009.

Gonçalves H, Menezes AMB, Bacchieri G, Dilélio AS, Bocanegra CAD, Castilhos ED, et al. Perfil de trabalho urbano de adolescentes de 14-15 anos: um estudo populacional no Sul do Brasil. Ciênc aúde Coletiva. 2012; 17(5):1267-74. doi: 10.1590/S1413-81232012000500020.

Rizzini I. Pequenos trabalhadores no Brasil. In: Priore MD, Organizadores. História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto; 2002.

Mallon C, Bortolozo AFQ. Alimentos comercializados por ambulantes: uma questão de segurança alimentar. Rev Publicatio UEPG. 2004; 10(3/4):65-76.

Umoh VJ, Odoba MB. Safety and quality evaluation of street foods sold in Zaria, Nigeria. Food Control. 1999; 10(1):9-14. doi: 10.1016/S0956-7135(98)00149-2.

Rodrigues KL, Gomes JP, Conceição RCS, Brod CS, Carvalhal JB, Aleixo JAG. Condições higiênico- -sanitárias no comércio ambulante de alimentos em Pelotas (RS). Ciênc Tecnol Aliment. 2003; 23(3): 447-52.

Muinde OK, Kuri E. Hygienic and sanitary pratices of vendors of street foods in Nairobi, Kenya. African J Food Agric Nutr Develop. 2005; 5(1):1-14.

Franco BDGM, Landgraf M. Microbiologia de alimentos. São Paulo: Atheneu; 2006.

Cardoso ALSP, Tessari ENC, Castro AGM, Kanashiro AMI, Gama NMSQ. Pesquisa de coliformes totais e coliformes fecais analisados em ovos comerciais no laboratório de patologia avícola de Descalvado. Arq Inst Biol. 2001; 68(1):19-22.

Oliveira AM, Gonçalves MO, Shinohara NKS, Stamford TLM. Manipuladores de alimentos: um fator de risco. Hig Alimentar. 2003; 17(114): 12-8.

Downloads

Publicado

03-05-2023

Como Citar

Oliveira VIDAL JÚNIOR, P., Vieira CARDOSO, R. de C. ., & Santos ASSUNÇÃO, L. . (2023). O comércio e a segurança de ovos de codorna em praias de Salvador (BA): um estudo na perspectiva do trabalho infantil. Revista De Nutrição, 26(4). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/8506

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS