Representação social da “Outra Infância” portuguesa (séculos XIX-XX): atendimento assistencial e (re)educativo / Social representation of the Portuguese “Other Childhood” (19th and 20th centuries): Assistance and (re)educational care

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24220/2318-0870v23n2a4002

Palavras-chave:

Assistência educativa. História da infância. Infância diferenciada. Outra infância. Representação social.

Resumo

O artigo aborda a “Outra Infância”, ou seja, a que foge da infância dita normalizada na sociedade, no contexto do século XIX e parte do XX, nas suas conceções ou enfoques que a reconstroem no tempo e na memória histórica. A presente análise hermenêutica circula à volta daquela infância, abandonada, marginalizada, em risco, delinquente e desamparada, sem a presença física e moral da família, sem escolarização e afetividade normal para o seu desenvolvimento, inserida em dispositivos jurídico-social, médico-pedagógico, assistencial e institucional. Serão tratadas as conexões históricas relacionadas com essa infância, as condições e fenômenos sociais interligados com a sua problemática e realidade. Essas infâncias são aqui problematizadas, contextualizando-as historicamente no momento contemporâneo português e fazendo digressões argumentativas de teor antropológico, epistemológico, pedagógico e histórico social. Aquelas infâncias eram assistidas e/ou institucionalizadas em internatos asilares e estabelecimentos assistenciais e de reeducação, onde recebiam uma formação para a vida. Portugal foi prolífero em criar diversos tipos de instituições, especialmente os asilos e acolhimentos do século XIX e outras instituições reeducativas que perduraram no século XX. Em três pontos assenta a argumentação aqui apresentada: emergência dos problemas e condições sociais da infância; a imagem da outra infância na voz dos periódicos; a infância à margem da sociedade e as medidas assistenciais e (re)educativas de encerramento.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ernesto Candeias Martins, Instituto Politécnico de Castelo Branco

Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior de Educação, Programa de Pós-Graduação em Intervenção Social Escolar. R. Prof. Faria de Vasconcelos, s/n., 6000-262, Castelo Branco, Portugal.

Referências

Agamben, G. Infância e história: ensaio sobre a destruição da experiência. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2004.

Amaro, F. Crianças maltratadas, negligenciadas ou praticando a mendicidade. Lisboa: Gabinete de Estudos Jurídico-Sociais, 1986. v.1.

Américo, Padre. O problema do abandono das crianças. In: Fontes, V. (Dir.). Atas do I Congresso Nacional de Proteção à Infância. Lisboa: Gráficas da Casa Pia de Lisboa, 1952, p.199-204. Anderson, M. Aproximaciones a la historia de la família occidental (1500 – 1914). Madrid: Siglo XXI Editores, 1988.

Ariès, P. L’enfant et la vie familiale sous l’ancien régime. Paris: Édition du Seuil, 1973.

Ariès, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

Aróstegui, J. La investigación histórica: teoría y método. Barcelona: Crítica, 1995.

Arráez, M.; Calles, J.; Moreno, L. La hermenéutica: uma actividad interpretativa. Sapiens: Revista Universitaria de Investigación, v.7, n.2, p.171-181, 2006.

Barbas, A. A ação moral da tutoria. A Tutoria, n.1, p.5-6, 1912.

Barbas, A. Mendicidade infantil. A Tutoria, n.9, p.8-9, 1915.

Barros, J. A Criança. A Tutoria, n.1, p.87-90, 1914.

Bernardino, I.M.F.; Kupfer, M.C.M. A criança como mestre do gozo da família atual: desdobramentos da “pesquisa de indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil”.

Revista Mal-Estar e Subjetividade, v.8, n.3, p.661-680, 2008.

Bessa, J.S. A Criança centro de atenções. Estudos, n.6/7, p.354-375, 1955.

Caldeira, M.F.C.G.E.S. De meninas se fazem homem: assistência infantil e juvenil na cidade de Lisboa durante a 1ª República. 1993. 769 f. Tese (Mestrado em História da Educação) – Universidade

Nova de Lisboa, Lisboa, 1993. 2v.

Cascão, R. Demografia e sociedade. In: Mattoso, J. (Org.). História de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993. p.425-439. v.4.

Castro, P.A.P. Comissão de proteção a menores. A Tutoria, n.4, p.56-57, 1913.

Chartier, R. El mundo como representación. Barcelona: Editorial Gedisa, 2002.

Cidade mártir. O Século, p.1-2, 29 abr. 1922. Jornal. Correia, F.S. Problemas de higiene e puericultura. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1934.

Corsaro, W.A. The sociology of childhood. London: Pine Forge Press, 1997.

Criança feita em pedaços. A Capital, n.186, p.1, 5 jan, quinta-feira. 1911. Jornal. Crianças à procura de alimento nas lixeiras. O Século, p.1, 11 nov. 1922. Jornal. Crianças desgraçadas pelas ruas da capital. Diário do Senado, p.2, 9 jul. 1924. Jornal.

DeMause, L. Historia de la Infancia. Madrid: Editorial Alianza, 1982.

Elias, N. La civilización de los Padres. In: La civilización de los padres y otros ensayos. Bogotá: Editorial Norma, 1998. p.407-451. Fernandes, R. Os Caminhos do ABC: sociedade portuguesa e ensino das primeiras letras. Porto: Porto Editora, 1994.

Ferreira, M.M. Salvar corpos, forjar a razão: contributo para uma análise crítica da criança e da infância como construção social em Portugal, 1880-1940. Lisboa: I.I.E., 2000.

Finkelstein, B. Incorporando as crianças à História da Educação. Revista Teoria e Educação, n.6, p.182-209, 1992.

Flandrín, J.L. Orígenes de la familia moderna. Barcelona: Crítica, 1979.

Gaitán, L. Sociología de la infancia: nuevas perspectivas. Madrid: Síntesis, 2006.

Gusmão, F.A.R. Assistência Social: estudo sobre a forma prática de independentemente da ação governativa se implantar nas províncias a assistência moderna. Lisboa: Typografia Adolpho de Mendonça, 1904.

Iturra, R. O imaginário das crianças: os silêncios da cultura oral. Lisboa: Fim de Século, 1997.

Lacan, J. Os complexos familiares. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.

Leão XIII, Papa. Carta Encíclica Rerum Novarum. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1891.

Lima, J.S. As Novas leis da infância em Portugal. A Tutoria, n.3, p. 44-45, 1913.

Lisboa. Ministério da Assistência Social. Lei da Assistência Pública. Decreto de 25 de maio 1911. Diário do Governo, Lisboa, 1911a.

Lisboa. Ministério da Justiça e dos Cultos. Lei de Proteção à Infância. Decreto de 27 de maio de 1911. Diário do Governo, Lisboa, 1911b.

Lisboa. Ministério da Justiça e dos Cultos. Decreto n° 6:117, de 20 de setembro de 1919. Diário do Governo, Lisboa, 1919.

Lisboa. Ministério da Justiça e dos Cultos. Decreto n° 10767, de 15 de maio de 1925. 1a Série n.106. Diário do Governo, Lisboa, 1925.

Lisboa. Ministério da Justiça e dos Cultos. Decreto de 14 de abril de 1891, sobre condições de trabalho de mulheres e de menores estabeleceu os limites do período normal de trabalho dos menores nos estabelecimentos industriais. Diário do Governo, Lisboa, 1891.

Lisboa. Ministério do Reino. Decreto Régio, 4 de janeiro de 1768. Abolição da Mesa dos Enjeitados passando para a Misericórdia de Lisboa a função de acolher/recolher crianças órfãs, pobres e abandonadas. Lisboa: Ministério do Reino, 1768.

Lisboa. Ministério do Reino. Mesa dos Enjeitados e Misericórdias: providências sobre crianças expostas e ingresso na Casa dos Expostos Misericórdias (Rodas). Lisboa: Ministério do Reino, 1806. Alvará Liberal de outubro de 1806.

Marquesa de Pomares. Os pobres e os ricos: crianças e adolescentes. Coimbra: Tipografia França Amado, 1906. Maria Manuela de Brito e Castro. Martins, E.C. Proteção e reeducação dos menores abandonados, marginados e delinquentes em Portugal. Veritas, v.42, n.2, p.349-364, 1997.

Martins, E.C. A Existência de uma Pedagogia Social ou Educação Social em Portugal: Séc. XIX-XX. In: Magalhães, J. (Org.). Fazer e ensinar História da Educação. Braga: Instituto de Educação e Psicologia, 1998. p.251-270.

Martins, E.C. Proteção Social e (re)educação de menores: o Padre António d’ Oliveira (1867-1923). Lisboa: Cáritas, 2012. Martins, E.C. Crianças “sem” a sua infância: história social da infância: acolher/assistir e reprimir/reeducar. Lisboa: Cáritas, 2016.

Morgado, E. Criancinhas: puericultura. Porto: Imprensa Portuguesa, 1965.

Moscovici, S. Psicología Social. Barcelona: Paidós, 1986. v.2. O paraízo burguês. A Batalha, p.1, 25 mar. 1925. Jornal.

Oliveira, Padre. Salvemos a raça. Lisboa: Edição do Autor, 1923.

Oliveira, A. Proteção moral e jurídica à infância. Lisboa: Tipografia do Reformatório Central de Lisboa ‘Pe António de Oliveira’, 1929.

Os Mendigos. O Novidades, p.1, 8 ago. 1911. Jornal.

Pelayo, V.C. A questão social da criança. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1950.

Pimentel Filho, A. Pedologia: esboço de uma História Natural da criança. Lisboa: Guimarães, 1929.

Postman, N. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.

Revista do Bem. Lisboa, 1904-1917. Publicação ilustrada quinzenal de propaganda moral educativa. n.74, p.2, 1908. Arquivo - Cota BN-Biblioteca Nacional J3630 B.

Revista de Educação e Ensino. Lisboa, 1896-1900. Publicação mensal ilustrada dedicada ao professorado, lavradores, e credores de gado de Portugal e Brasil. Ano 1, n.11, p.258, 1886. Arquivo - Cota BN-Biblioteca Nacional J1475 B.

Ribeiro, V. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa: subsídios para a sua história 1498-1898: instituição, vida histórica, estudo presente e seu futuro. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Sciencias, 1902.

Rocha, C.; Ferreira, M. Alguns contributos para a compreensão da construção médico-social da infância em Portugal: 1820-1950. Educação, Sociedade e Cultura, n.2, p.59-90, 1995.

Rosa, M.D. Adolescência: da cena familiar à cena social. Psicologia USP, v.13, n.2, p.227-242, 2002.

Santos, A.J.A. O Crescimento da criança portuguesa: subsídios para a constituição de uma Pedagogia Nacional. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1915.

Shörter, E. Naissance de la famille moderne. Paris: Édition du Seuil, 1977.

Silva, M.S. A pobreza infantil em Portugal. Lisboa: Unicef, 1991. Soares, N.F. Outras Crianças…: a situação social das crianças atendidas numa comissão de Proteção de Menores. Braga: Centro de Estudos da Criança, 2001.

Sousa, C.S. A luta contra a mortalidade infantil: Junta Geral do Direito de Lisboa. Lisboa: Tipografia Sousa Neves, 1934.

Sousa, M.T.R. A criança, puericultura e patologia. Porto: Porto Editora, 1971.

Souto, A.A. Estudos de Assistência Social. Lisboa: Livraria Ferin, 1925. Vadios. Gazeta de Lisboa, p.1, 15 abr. 1813. Jornal.

Villalva, M. Poema “Miséria”. Lisboa: Edição do Autor, 1909. (Serões, v.2).

Weston, A. Las claves de la argumentación. Barcelona: Ariel, 2001.

Downloads

Publicado

2018-06-21

Como Citar

Martins, E. C. (2018). Representação social da “Outra Infância” portuguesa (séculos XIX-XX): atendimento assistencial e (re)educativo / Social representation of the Portuguese “Other Childhood” (19th and 20th centuries): Assistance and (re)educational care. Revista De Educação PUC-Campinas, 23(2), 251–272. https://doi.org/10.24220/2318-0870v23n2a4002