Pertinência epistemológica da relação entre religião e ciência | Epistemological relevance of the relationship between science and religion
DOI:
https://doi.org/10.24220/2447-6803v43n1a4194Palavras-chave:
Ciência. Crença. Epistemologia. Princípio de neutralidade. Religião. Teologia.Resumo
A referência à epistemologia demanda um esclarecimento de conceitos para a possibilidade de uma relação entre religião e ciência. Noções como de conhecimento e crença, verdade e justificação, religião e teologia, e mesmo a de ciência, são submetidas a escrutínio. A dificuldade de se estabelecer um diálogo entre diferentes esferas de conhecimento leva primeiro à discussão de im-pertinências epistemológicas, ligadas ao ateísmo e a remoção do religioso como esfera de conhecimento. Mais positivamente, descreve-se a noção do “princípio de neutralidade”, que reflete a autonomia dos discursos científico e teológico, que se justifica por concordismos ilusórios no passado. Aqui se descrevem também pseudo-pertinências, tentativas de sínteses do científico e religioso no âmbito da cosmologia, da mecânica quântica, da biologia evolutiva e da ecologia. Chegando-se à pertinência desejada, enfatiza-se a necessidade de uma concepção filosófica realista e de noções plurais de verdade para o estabelecimento do diálogo. Noções como de “crença” e “fé” são retomadas, mostrando-se a pertinência de pensá-las em conjunto nos domínios da religião, da teologia e da ciência. Recupera-se a citação de Hebreus 11, 1 para se desenvolver uma noção mais universalista de fé. Desafios apresentados à teologia dizem respeito à ideia de revelação e ao pluralismo religioso. Por outro lado, se mostra que as ciências são também plurais. Por fim, fala-se da pertinência social porque a pertinência epistemológica citada é relevante para diferentes públicos. Concluindo, mencionam-se os desafios apresentados pelo alegado caráter ilusório da religião, e pela indiferença religiosa contemporânea.
Downloads
Referências
AQUINO, T. Suma Teológica. São Paulo: Edições Loyola, 2002. v.1, parte 2, p.63.
ARTIGAS, M. Bases epistemológicas do diálogo ciência e religião hoje. São Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.pucsp.br/cecrei/basesepist.htm>. Acesso em: 15 dez. 2008.
BELTRÁN, O. El concepto de consonancia: un puente entre la ciencia y la teología. Consonancias, ano 9 v.32, p.2-23, 2010. Disponível em: <http://bibliotecadigital.uca.edu.ar/greenstone/cgi-bin/library.cgi?a=d&c=Revistas&d=consonancias32>. Acesso 10 dez. 2017.
BOYER, S.D. The logic of mystery. Religious Studies, v.43, n.1, p.89-102, 2007.
BYL, J. Matter, Mathematics, and God. Theology and Science, v.5, n.1, p.73-86, 2007.
CRUZ, E.R. De “Fé e Razão” a “Teologia e Ciência/Tecnologia”: aporias de um diálogo e o recuperar da Doutrina da Criação. In: SOCIEDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIA DA RELIGIÃO (Org.). Religião, Ciência e Tecnologia. São Paulo: Paulinas, 2009, p.7-38.
CRUZ, E.R. Teologia e realismo: afinal, qual é o objeto do falar religioso? In: CRUZ, E.R. (Org.). Teologia e Ciências Naturais: teologia da criação, ciências e tecnologia em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2011. p.305-323.
DAWKINS, R. O rio que saía do éden: uma visão darwiniana da vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
DAWKINS, R. O relojoeiro cego: a teoria da evolução contra o desígnio divino. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
DAWKINS, R. Deus, um delírio. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
EUVÉ, F. Science et mystique après la modernité: Un paradigme enchanté? Études, v.1, tome 394, p.59-68, 2001.
EATON, H. Introducing ecofeminist theologies. London: Continuum International Publishing Group, 2005. p.102.
GONÇALVES, P.S.L. A sustentabilidade à luz da hermenêutica teológica da ecologia. In: SOCIEDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIA DA RELIGIÃO (Org.). Congresso Anual da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião, 21., 2008, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... São Paulo: Paulinas, 2008. p.86-107. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org. br/portals/48/LivroDigital.pdfi>. Acesso em: 21 fev. 2009.
GOULD, S.J. Pilares do tempo: ciência e religião na plenitude da vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
HALL, W.D. Does creation equal nature? Confronting the Christian confusion between ecology and cosmology. Journal of the American Academy of Religion, v.73, n.3, p.781-812, 2005.
HARRISON, P. “Ciência” e “Religião”: construindo os limites. REVER: Revista de Estudos da Religião, ano 7, p.1-33, 2007.
HULTGREN, A.J. Paul Letter to the Romans: A commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 2011. p.92.
JENSEN, J.S. Epistemologia. REVER: Revista de Estudo da Religião, Ano 13, n.2, p.171-191, 2013.
JOÃO PAULO II, Papa. Audiência Geral de 15 de janeiro de 1986. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1986. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1986/documents/hfjp-ii_aud _19860115_sp.html>. Acesso em: 20 dez. 2008.
KÜNG, H. O princípio de todas as coisas: ciências naturais e religião. Petrópolis: Vozes, 2007. p.174-212.
LIBÂNIO, J.B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1995.
LIGOMENIDES, P.A. The reality of Mathematics. Journal of Computational and Applied Mathematics, v.227, n.1, p.10-16, 2009. http://dx.doi.org/10.1016/j.cam.2008.07.029
MALDAMÉ, J.-M. Cristo para o universo: fé cristã e cosmologia moderna. São Paulo: Paulinas, 2005.
McMULLIN, E. Contingencia evolutiva y finalidad del cosmos. Scripta Theologica, v.30, n.1, p.227-251,
Disponible en: <http://dadun.unav.edu/handle/10171/13312>. Acceso: 15 dec. 2017.
MIRANDA, M.F. A igreja numa sociedade fragmentada: escritos eclesiológicos. São Paulo: Loyola, 2006.
MITHEN, S. A pré-história da mente: uma busca das origens da arte, da religião e da ciência. São Paulo: Unesp, 2002.
MOLTMANN, J. Ciência e sabedoria: um diálogo entre ciência natural e teologia. São Paulo: Loyola, 2007.
MONOD, J. O acaso e a necessidade: ensaio sobre a Filosofia Natural da Biologia Moderna. Petrópolis: Vozes, 1971. p.198.
PAIVA, G.J. Psicologia Cognitiva e Religião. REVER: Revista de Estudos da Religião, ano 7, p.183-191, 2007.
PETERS, T.; BENNETT, G. (Org.). Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo: Loyola, 2003.
POLKINGHORNE, J. Meccanica quantistica. In: TANZELLA-NITTI, G.; STRUMIA, A. (a cura di). Dizionario interdisciplinare di scienza e fede: cultura scientifica, filosofia e teologia. Roma: Urbaniana University Press, 2002. p.2340. 2v. 170 voci piu appendici. Disponível em: <http://www.disf.org/DettaglioVoce.asp?idVoce=83>. Acesso em: 15 dez. 2008.
ROVELLI, C. A realidade não é o que parece: a estrutura elementar das coisas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. E-book.
RUSSELL, R.J.; WEGTER-McNELLY, K. Ciência e Teologia: interação mútua. In: PETERS, T.; BENNET, G. Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo: Loyola, 2003. p.45-63.
SANGIOVANNI, R. Crônica de uma ressaca (quântica) anunciada. Salvador: Edgardigital, 2017. Disponível em: <http://www.edgardigital.ufba.br/?p=2634>. Accesso em: 15 jul. 2018.
SHAKESPEARE, W. Sonho de uma noite de verão. São Paulo: Ebooks.com, 2000. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2018.
TAVES, A. Religious experience reconsidered: A building block approach to the study of religion and other special things. Princeton: Princeton University Press, 2009.
TESTA, F.G. Deus sob as coisas: o pensamento espiritual de Chiara Lubich sobre a natureza. 2010. 194f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.
TILLICH, P. Dinâmica da fé. São Leopoldo: Sinodal, 1970. p.51.
TILLICH, P. Teologia sistemática. 5.ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005. 3v em 1. p.42.
TOREN, C. Antropologia e Psicologia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.27, n.80, p.21-36, 2012.
TRIGG, R. Racionalidade e religião: precisará a fé da razão? Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
VAN TILL, H.J. No place for a small God. In: TEMPLETON, J.M. (Org.). How Large is God? The voices of scientists and theologians. Radnor: Templeton Foundation Press, 1997. p.113-135.
VAN TILL, H.J. Criação de potencial pleno (“Teísmo Evolucionista”). In: MORELAND, J.P.; REYNOLDS, J.M. (Org.). Criação e evolução: três pontos de vista. São Paulo: Editora Vida, 2006. p.181-244.
WIGNER, E. The Unreasonable effectiveness of mathematics in the natural sciences. Communications in Pure and Applied Mathematics, v.13, n.1, p.1-14, 1960.