O tempo da fratura: O messianismo que vem
Palavras-chave:
Instante, desformalização do tempo, interrupção política, tempestade, colecionador, messianicidade sem messianismo, o recém-chegado / o que chegaResumo
O ponto de partida deste artigo é a idéia, inspirada na reflexão de Walter Benjamin, de que todo o trabalho histórico sobre o tempo implica um gesto de fixação do presente na realidade sensível das coisas mesmas. Tempo histórico? O termo, tomado aqui no seu sentido usual, e sem dúvida impróprio para designar este fenômeno, ao mesmo tempo, de fixação e de fuga, tanto que ele é submetido a uma lei de descontinuidade, de adiamentos, de desfiguração e de destruição; lei através da qual a questão do tempo messiânico emergiria à superfície mais inaparente da experiência, « dos resíduos por assim dizer », como o sublinha Benjamin numa carta de 9 de agosto de 1935, endereçada a Gershom Scholem. Tempo messiânico? Porque este último transborda, por todos os lados, os limites ou a lei da fixação. A reflexão sobre o tempo histórico viria então a caber numa temporalidade que não se concebe senão como desapossamento, cuja energia seria quer restaurativa quer utópica, afetando assim ao tempo ele-mesmo uma dimensão explicitamente política que se poderia resumir no binômio direito e violência. Eu interrogo o estado de exceção que o tempo messiânico representa no momento preciso em que ele parece fazer a sua aparição no próprio tecido do tempo histórico. Fratura, intrusão, ruptura, aceleração, rasgo, impaciência, convite, encantamento, revolução… trata-se sempre duma prova de desformalização do próprio tempo, suscitando um efeito de diacronia, desprendimento, desvio ou inversão, lá onde o tempo histórico faz valer a sua soberania. A crítica da violência está portanto no cerne desta reflexão como no cerne de toda a travessia conceptual dentro de um pensamento do messianismo. Daí a idéia do « tempo contra o tempo » e do messianismo do outro. Eu pretendo constituir uma espécie de cartografia não-exaustiva daquilo que Scholem chamava « passar através do muro da historicidade ». O tempo histórico, deslocando-se ostensivamente até ao « instante » (Rosenzweig) fulgurante que ameaça o fundamento da sua verdade, faz aparecer camadas estratificadas e sedimentadas, como se fossem ou idiomas a interpretar ou a confissão de uma vulnerabilidade absoluta duma tensão temporal que não se pode desfazer senão negando-se a si própria.
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