Composição corporal e hipertensão arterial: estudo comparativo envolvendo mulheres das comunidades quilombolas e da população geral de Alagoas, Brasil

Autores

  • Haroldo da Silva FERREIRA Universidade Federal de Alagoas
  • Wcleuton Oliveira SILVA Universidade Federal de Alagoas
  • Ewerton Amorim dos SANTOS Universidade Federal de Alagoas
  • Myrtis Katille de Assunção BEZERRA Universidade Federal de Alagoas
  • Bárbara Coelho Vieira da SILVA Universidade Federal de Alagoas
  • Bernardo Lessa HORTA Universidade Federal de Pelotas

Palavras-chave:

Antropometria, Saúde de grupos específicos, Transição nutricional, Estado nutricional, Sobrepeso

Resumo

Objetivo
Investigar, no âmbito do Estado de Alagoas, a composição corporal e a prevalência de hipertensão arterial em mulheres quilombolas, tendo como referencial mulheres não quilombolas.

Métodos
Os dados procedem de dois inquéritos transversais realizados em 2005 e 2008. O primeiro estudou amostra representativa de mães e crianças menores de cinco anos de Alagoas. Para o segundo, eram elegíveis todas as mulheres de 18 a 60 anos residentes nas comunidades (n=39) quilombolas do estado. As informações de interesse foram obtidas por meio de visitas domiciliares. Utilizaram-se como medida de associação a razão de prevalência e o respectivo intervalo de confiança de 95%, calculados por análise de regressão de Poisson com ajuste robusto da variância.

Resultados
Foram avaliadas 1.631 mulheres quilombolas e 1.098 não quilombolas. As mulheres quilombolas apresentaram menor escolaridade, maior número de filhos, maior prevalência de hipertensão arterial, menor estatura, maior idade da menarca, maior índice de massa corporal, bem como percentual de gordura corporal, circunferência da cintura, razão entre cintura e estatura e razão entre cintura e quadril. Após ajuste para idade, as prevalências das seguintes condições permaneceram mais elevadas entre quilombolas: hipertensão arterial (RP=1,81; IC95%: 1,49; 2,21), circunferência da cintura ≥80cm (razão de prevalência =1,23 IC95%: 1,11; 1,37), RCE >0,5 (RP=1,11; IC95%: 1,02; 1,21) e RCQ ≥0,85 (RP=1,64; IC95%: 1,43; 1,88).

Conclusão
O nível socioeconômico das mulheres quilombolas é inferior ao das não quilombolas; além disso, as quilombolas estão submetidas a um maior risco de obesidade abdominal e de hipertensão arterial, características que as classificam como um grupo especialmente vulnerável à morbimortalidade por doenças cardiovasculares, justificando prioridade na implementação de medidas de atenção. 

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Publicado

03-05-2023

Como Citar

da Silva FERREIRA, H. ., Oliveira SILVA, W. ., Amorim dos SANTOS, E. ., de Assunção BEZERRA, M. K. ., Coelho Vieira da SILVA, B. ., & Lessa HORTA, B. (2023). Composição corporal e hipertensão arterial: estudo comparativo envolvendo mulheres das comunidades quilombolas e da população geral de Alagoas, Brasil. Revista De Nutrição, 26(5). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/8518

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS