Olhares sobre a alimentação contemporânea: a gastro-anomia e os corpos de Botero
Palavras-chave:
Alimentação, Arte, Comportamento alimentarResumo
O excesso de discursos e informação em torno do tema da alimentação gera um cenário em que o comensal já não sabe como decidir pelo que comer. O sociólogo francês Claude Fischler, partindo do conceito durkheimiano, criou o neologismo gastro-anomia para falar sobre o paradoxo que vivenciamos frente à alimentação contemporânea: nunca soubemos tanto sobre os efeitos da alimentação sobre o corpo e, curiosamente, nunca tivemos tantos problemas de saúde relacionados a ela. É sobre este fenômeno gastro-anômico que trata o presente ensaio. Como a anomia se apresenta na sociedade contemporânea quando o assunto é alimentação? Como nutricionistas entendem esta questão? A arte, por realizar a síntese das propriedades intrínsecas da sociedade, foi utilizada como fio condutor das reflexões. O ponto de partida foi análise de duas obras de épocas distintas: Idade Média e contemporaneidade. O casal Arnolfini representado por Jan van Eyck é uma obra que data do século XV, época em que o discurso médico e o religioso eram aqueles que majoritariamente regiam as escolhas alimentares dos indivíduos. A paródia de Botero, por sua vez, traz à tona corpos volumosos, como uma referência ao excesso: o excesso de informações com que se depara o comensal hoje.
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