A porção na rotulagem nutricional de alimentos processados comercializados no Brasil: relação com o valor energético
Palavras-chave:
Escolha alimentar, Rotulagem de alimentos, Legislação sobre alimentos, Política nutricional, Informação nutricionalResumo
Objetivo
Este estudo objetivou analisar a informação sobre porção na rotulagem nutricional de alimentos processados, considerando as recomendações da legislação brasileira, a variabilidade entre alimentos similares e a sua relação com o valor energético.
Métodos
Foram coletadas informações sobre a rotulagem nutricional de 24 grupos de alimentos processados disponíveis em um supermercado no sul do Brasil. As porções declaradas foram classificadas em cinco grupos de acordo com a sua adequação às porções recomendadas pela legislação brasileira, sendo <70% e >130% inadequada e 70-99%, 100% e 101-130% adequada. Foram conduzidas análises descritivas e de correlação de Spearman, bem como testes de Kruskal-Wallis.
Resultados
Foram analisados 1.953 alimentos industrializados, sendo que 72% apresentaram porções idênticas às recomendadas e 14% eclararam porções dentro da margem de 60% de variabilidade permitida pela legislação. Houve grande variabilidade no tamanho da porção declarada entre alimentos similares, com amplitude máxima entre hambúrgueres e almôndegas (364 g). Além disso, observou-se correlação significativa e positiva entre porção e valor energético declarados na maioria dos grupos de alimentos, indicando que porções menores podem estar sendo utilizadas para declarar menor valor energético.
Conclusão
Concluiu-se que a margem permitida pela legislação para declaração do tamanho da porção nos rótulos de alimentos pode estar levando a uma baixa padronização das porções declaradas entre alimentos similares e a uma variabilidade significativa no valor energético declarado. Como consequência, isso pode gerar rótulos de alimentos confusos e afetar as escolhas alimentares. Dessa forma, faz-se necessária revisão da legislação de rotulagem nutricional, visando uniformizar as porções declaradas nos rótulos e facilitar escolhas alimentares mais saudáveis.
Referências
World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: WHO; 2004.
Piernas C, Popkin BM. Food portion patterns and trends among U.S. children and the relationship to total eating occasion size, 1977-2006. J Nutr. 2011; 141(6):1159-64.
Malik VS, Willett WC, Hu FB. Global obesity: Trends, risk factors and policy implications. Nat Rev Endocrinol. 2013; 9(1):13-27.
Monteiro CA, Cannon G. The impact of transnational “big food” companies on the south: A view from Brazil. Plos Med. 2012; 9(7):e1001252.
Young LR, Nestle M. Reducing portion sizes to prevent obesity a call to action. Am J Prev Med. 2012; 43(5):565-8.
Kliemann N, Kraemer MVS, Silveria BM, Gonzalez- -Chica DA, Proença RPC. Tamanho da porção e gordura trans: os rótulos de alimentos industriali zados brasileiros estão adequados? Demetra. 2015; 10(1):43-60.
Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: obesidade; 2006 [acesso 2013 mar 1]. Disponível em: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/doc_ obesidade.pdf/
World Health Organization. Follow-up to the political declaration of the high-level meeting of the general assembly on the prevention and control of non-communicable diseases. Geneva: WHO; 2013.
Food and Agriculture Organization of the United Nations. Codex alimentarius: Guidelines on nutrition labelling CAC/GL 2-1985. Rome: FAO; 2015.
World Health Organization. Nutrition labels and health claims: The global regulatory environment. Geneva: WHO; 2004.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância da Saúde. Resolução RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003. Aprova regulamento técni co de porções de alimentos embalados para fins de rotulagem nutricional. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.
Grupo Mercado Comum. Resolução nº 44/03, de 10 de dezembro de 2003. Aprova o regulamento técnico do Mercosul para rotulagem nutricional de alimentos embalados. Montevidéu: GMC; 2003.
Walker KZ, Woods JL, Rickard CA, Wong CK. Product variety in Australian snacks and drinks: How can the consumer make a Healthy Choice? Public Health Nutr. 2008; 11(10):1046-53.
Kliemann N, Veiros MB, Gonzalez-Chica DA, Proenca RPC. Reference serving sizes for the brazilian population: An analysis of processed food labels. Rev Nutr. 2014; 27(3):329-41.
Haskelberg H, Neal B, Dunford E, Flood V, Rangan A, Thomas B, et al. High variation in manufacturer declared serving size of packaged discretionary foods in Australia. Br J Nutr. 2016; 115(10):1810-8.
Drewnowski A, Maillot M, Darmon N. Should nutrient profiles be based on 100 g, 100 kcal or serving size? Eur J Clin Nutr. 2009; 63(7):898-904.
Grandi AZ, Rossi DA. Evaluation of mandatory nutritional information on labels of fermented dairy products available at the market. Rev Inst Adolfo Lutz. 2010; 69(1):62-8.
Monteiro CA. Nutrition and health. The issue is not food, nor nutrients, so much as processing. Public Health Nutr. 2009; 12(5):729-31.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesqui sa de Orçamentos Familiares 2008-2009: despesas, rendimento e condições de vida. Rio de Janeiro: IBGE; 2010 [acesso 2014 jul 2]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesqui sa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil [acesso 2014 mar 1]. Disponível em: http://www. ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicao devida/pof/2008_2009_analise_consumo/
Kerr MA, McCann MT, Livingstone MBE. Food and the consumer: Could labelling be the answer? Proc Nutr Soc. 2015; 74(2):158-63.
Brasil. Associação Brasileira de Supermercados. Ranking ABRAS 2013. [acesso 2013 jul 2]. Dispo nível em: http://www.abrasnet.com.br/clipping. php?area=20&clipping=35850/
World Health Organization. Diet, nutrition and prevention diseases. Geneva: WHO; 2003.
Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, de Castro IRR, Cannon G. Increasing consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health: Evidence from Brazil. Public Health Nutr. 2011; 14(1):5-13.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância da Saúde. Resolução RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova regulamento técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos emba lados, tornando obrigatória a rotulagem nutri cional. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.
Vartanian LR, Sokol N. Serving-size information on nutrition labels in Australia. Aust Nz J Publ Heal. 2012; 36(5):493-4.
Bryant R, Dundes L. Portion distortion: A study of college students. J Consum Aff. 2005; 39(2):399-408.
United States Department of Agriculture. Serving Sizes in the food guide pyramid and on the nutrition facts label: What’s different and why? Washington (DC): USDA; 2014.
Anderson AS, Barton K, Craigie A, Freeman J, Gregor A, Stead M, et al. Exploration of adult food portion size tools. Edinburgh: NHS Health Scotland; 2008.
Brasil. Código de proteção e defesa do consumidor. Lei nº8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras provi dências. Brasília; 1990. 31. Dallas SK, Liu PJ, Ubel PA. Potential problems with increasing serving sizes on the nutrition facts label. Appetite. 2015; 95:577-84.
Steenhuis IHM, Vermeer WM. Portion size: Review and framework for interventions. Int J Behav Nutr Phy. 2009; 6:58.
Monteiro RA, Coutinho JG, Recine E. Usage of food and beverage labels by supermarket shoppers in Brasília, Brazil. Rev Panam Salud Publ. 2005; 18(3):172-7.
Singla M. Usage and understanding of food and nutritional labels among Indian consumers. Br Food J. 2010; 112(1):83-92.
Gregori D, Ballali S, Vogele C, Gafare CE, Stefanini G, Widhalm K. Evaluating food front-of-pack labelling: A pan-European survey on consumers’ attitudes toward food labelling. Int J Food Sci Nutr. 2014; 65(2):177-86.
Watson WL, Kury A, Wellard L, Hughes C, Dunford E, Chapman K. Variations in serving sizes of Australian snack foods and confectionery. Appetite. 2015; 96:32-7.
Pelletier AL, Chang WW, Delzell JE, McCall JW. Patients’ understanding and use of snack food package nutrition labels. J Am Board Fam Pract. 2004; 17(5):319-23.
Lando AM, Lo SC. Single-larger-portion-size and dual-column nutrition labeling may help consumers make more healthful food choices. J Acad Nutr Diet. 2013; 113(2):241-50.
Hissanaga VM, Proença RPC, Block JM. Trans fatty acids in Brazilian food products: A review of aspects related to health and nutrition labeling. Rev Nutr. 2012; 25(4):517-30.
Proenca RPC, Silveira BM. Intake recommendations and labeling of trans fat in processed foods in Brazil: Analysis of official documents. Rev Saúde Pública 2012; 46(5):923-8.
Kraemer MVD, Machado PP, Kliemann N, Chica DAG, Proenca RPC. The brazilian population consumes larger serving sizes than those informed on labels. Br Food J. 2015; 117(2):719-30.
Kraemer MV, Oliveira RC, Gonzalez-Chica DA, Proenca RPC. Sodium content on processed foods for snacks. Public Health Nutr. 2016; 19(6):967-75.
Camara MCC, Marinho CLC, Guilam MC, Braga AMCB. Academic production on food labeling in Brazil. Rev Panam Salud Publ. 2008; 23(1):52-8.
Lachat C, Tseng M. A wake-up call for nutrition labelling. Public Health Nutr. 2013; 16(3):381-2.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Nathalie KLIEMANN, Marcela Boro VEIROS, David Alejandro GONZÁLEZ-CHICA, Rossana Pacheco da Costa PROENÇA
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.