Memória do Gesto

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.24220/2595-9557v3e2020a4966

Resumen

As imagens apresentadas neste ensaio visual são decorrentes de uma série de vídeos, que foram construídos a partir de pequenos gestos, criados para estar em performance. Aqui ganham outra versão, ou melhor, outra atualização. Trata-se de híbridos, que estão entre a fixidez das imagens e a produção de presença das performances. São imagens que, ao mesmo tempo em que são atravessadas pela gestualidade e pela taticidade, são traços ou rastros de um amplo processo de diálogo das nossas pesquisas artísticas, que se cristalizam agora em formas fixas. Evocam, ao menos para nós, a memória – como suspensão do mundo. A memória do corpo, do gesto, da performance, bem como de processos criativos que ficaram para trás e de pesquisas que tomaram outros rumos, mas que se apresentam aqui por meio de novos questionamentos. De maneira paradoxal, evocam ainda a memória como forma de armazenamento, no caso o armazenamento digital, registrado em sequências de 0 e 1.

Parece-nos oportuno trazer o híbrido performance-imagem neste momento, principalmente a partir de suas próprias contradições. Em tempos de isolamento social, a presença mediada pela imagem digital tem tido uma ênfase constante. Não que não tivesse anteriormente, mas o digital tem se tornado cada vez mais o refúgio em que os indivíduos constroem seus esconderijos das imperfeições do mundo físico e do corpo a corpo das relações intersubjetivas, conforme mencionou recentemente Achille Mbembe.

Reiteramos, não há melhor momento para pensar a produção de presença mediada pela imagem digital, a qual, por meio da sua matriz binária, generaliza a memória dos corpos, dos gestos, das performances, reduzindo-a às supostas universalidades e sequências numéricas.

“Até o outro dia”, como argumenta Mbembe, “[...] é na esfera digital que parecida residir o destino dos conjuntos humanos e da produção material, bem como os seres vivos. [...] Bastava transferir o conjunto de aptidões do ser vivo para um duplo digital que estaria tudo resolvido” (MBEMBE, 2020, online). A generalidade do digital seria capaz de apagar todas as contradições e diferenças. Os corpos, os gestos, as performatividades e suas memórias seriam então pasteurizados para eliminar qualquer resíduo estranho. No entanto, argumenta ele, “não importa o quanto tentemos nos livrar disso, tudo remete, por fim, ao corpo”.

Convidamos no ensaio visual Memória do gesto as leitoras e os leitores a percorrerem algumas memórias numéricas de gestos, atos físicos presentificados que buscam tensionar e colocar ruído na assepsia do mundo digital descorporificado que hoje nos engole com seus fluxos imateriais e suas novas formas de vigilância, controle e domesticação social

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Biografía del autor/a

Alessandra Lucia Bochio, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Artes, Departamento de Artes Visuais

Artista, pesquisadora e professora do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da ECA/USP. Mestre em Artes pela Universidade Estadual Paulista IA/UNESP. Bacharel em Artes Plásticas pelo IA/UNESP, Licenciatura Plena em Arte pelo Centro Universitário Belas Artes. Realizou estágio de pesquisa na Université Sorbonne Nouvelle Paris 3, em Paris. Como artista se dedica a trabalhos colaborativos na realização de performances e instalações audiovisuais.

Felipe Merker Castellani, Universidade Federal de Pelotas, Centro de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais

Felipe Merker Castellani (São Paulo, SP, 1984) É artista multimídia, pesquisador e professor. Suas pesquisas práticas e teóricas atuais têm como campo problemático a criação musical em relação a outras práticas artísticas, como o vídeo e a dança, especificamente em contextos de criação coletiva e colaborativa. Desenvolve instalações interativas, videoinstalações e performances audiovisuais em parceria com artistas de diversas áreas. É mestre e doutor em música na área de Processos Criativos junto ao Instituto de Artes da Unicamp, e bacharel em composição musical pela Faculdade Santa Marcelina. Entre 2013 e 2014 realizou estágio de pesquisa no Centre de recherche Informatique et Création Musicale (CICM), Université Paris 8/ Maison des Sciences de lHomme Paris Nord. Entre 2017 e 2018 realizou estágio de Pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Participou de eventos nacionais e internacionais dedicados à criação artística experimental, como o Festival Música Nova, o Encontro Internacional de Música e Arte Sonora, o Sonorities Festival (Belfast, Irlanda do Norte), o Festival Sonoimágenes (Buenos Aires, Argentina), a Mostra Arquinterface (Galeria de Arte do Sesi-SP), o Programa de Exposições Individuais do Centro Cultural São Paulo, a Mostra Labmis 2016 (MIS-SP), dentre outros. É membro do Grupo de Estudos Extremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea (PUC-SP) e líder do Grupo de Pesquisa Corpo-Imagem-Som: Pesquisa Artística e Práticas Experimentais (CA-UFPel). Atualmente é professor adjunto do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde atua nos cursos de bacharelado em Música e Artes Visuais e no Programa de Pós-Graduação (mestrado) em Artes Visuais.

Citas

MBEMBE, A. O direito universal à respiração. São Paulo: N-1 Edições, 2020. Disponível em: https://www.n-1edicoes.org/textos/53. Acesso em: 15 nov. 2020.

Publicado

2020-12-02

Cómo citar

Bochio, A. L., & Castellani, F. M. (2020). Memória do Gesto. Pós-Limiar | Título não-Corrente, 3, 1–12. https://doi.org/10.24220/2595-9557v3e2020a4966

Número

Sección

Dossiê: “Interdisciplinaridade, tecnologia e culturas ativistas”