Repensar a periodização da construção vernacular luso-brasileira

ou, como a nossa arquitetura tradicional é mais recente do que parece

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24220/2318-0919v22e2025a10654

Palavras-chave:

Arquitetura tradicional, Construção luso-brasileira, Historiografia, Idade Moderna, Período Pombalino

Resumo

Este artigo propõe um conceito de arquitetura tradicional luso-brasileira com base na caracterização da construção vernacular e no questionamento à cronologia canônica baseada na história político-econômica e dos estilos artísticos. No centro da problemática aqui levantada está o diálogo entre os saberes vernaculares e a atuação profissional erudita, numa temporalidade diferente daquela marcada pelos monumentos que sinalizavam a identidade nacional na historiografia dos séculos XIX e XX. Em oposição à periodização convencional, a história das técnicas e das regulações edilícias permite situar o recorte de meados do século XVIII ao início do XX como época de consolidação de saberes tradicionais partilhados entre as esferas vernacular e erudita. Quatro elementos principais subsidiam essa proposta: a inovação nas regulações edilícias urbanas; a difusão do módulo alentejano de testadas com 40 palmos para o urbanismo Iluminista e além; a revisão crítica do conhecimento histórico-arqueológico acerca da cronologia dos sistemas construtivos conhecidos como “frontais”; e a consolidação de uma tipologia doméstica unificada entre o meio rural e o urbano. Esse conceito de tradição não é totalmente congruente com aquele dos movimentos tradicionalistas do passado ou do presente, embora ofereça um subsídio para se discutir a relevância tanto do recorte cronológico como ferramenta analítica, quanto da tradição como instrumento operativo da arquitetura.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Amaral, F. K. (org.). Arquitectura popular em Portugal. Lisboa: Sindicato Nacional dos Arquitectos, 1961.

Baganha, J. A arquitetura popular dos povoados do Alentejo. Lisboa: Edições 70, 2016.

Barreto, P. T. Casas de câmara e cadeia. Revista do Serviço do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional, v. 11, p. 9-196, 1947.

Bazin, G. L’architecture religieuse baroque au Brésil. Paris: Plon, 1956.

Benincasa, V. Fazendas paulistas: arquitetura rural no ciclo cafeeiro. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2008.

Białostocki, J. Das Modusproblem in den bildenden Künsten: Zur Vorgeschichte und zum Nachleben des “Modusbriefes” von Nicolas Poussin. Zeitschrift für Kunstgeschichte, v. 24, n. 2, p. 128, 1961.

Biene, M. P. V. A arquitetura das casas-grandes remanescentes dos engenhos de açúcar no Rio de Janeiro setecentista. 2007. Dissertação (Mestrado em História e Teoria da Arte) – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

Bueno, B. P. S. Tecido urbano e mercado imobiliário em São Paulo: metodologia de estudo com base na Décima Urbana de 1809. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 13, n. 1, p. 59–97, 2005.

Burckhardt, J. Die Kultur der Renaissance in Italien: ein Versuch. Basel: Schweighauser, 1860.

Bury, J. B. The “Borrominesque” churches of colonial Brazil. The Art Bulletin, v. 37, n. 1, p. 27-53, 1955.

Caldas, J. V. Introdução. In: Caldas, J. V. (org.). Arquitectura popular dos Açores. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2000. p. 13–29.

Calder, B. Architecture: from prehistory to climate emergency. Harmondsworth: Penguin, 2021.

Calmeiro, M. I. B. R. Urbanismo antes dos planos: Coimbra 1834–1934. Tese (Doutoramento em Teoria e História

da Arquitetura) – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2015.

Caniggia, G. Analisi tipologica: la corte matrice dell’insediamento. In: Ragionamenti di tipologia: operatività della tipologia processuale in architettura. Firenze: Alinea, 1997. p. 59–107.

Carita, H. Arquitectura civil indo-portuguesa e a paisagem urbana de Goa. In: Hespanha, A.M.; Cunha, M.S. (org.) Os espaços de um Império: Estudos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999. p. 77-89.

Choisy, A. Histoire de l’architecture. Paris: Vincent, Fréal & Cie., 1964.

Coelho, G. N. Arquitetura da mineração em Goiás. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2007.

Costa, L. O Aleijadinho e a arquitetura tradicional. O Jornal, 24 jun. 1929.

Costa, L. Documentação necessária. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 1, p. 31-39, 1937.

Costa, M. R. L. et al. (org.). Arquitetura tradicional no Mediterrâneo Ocidental: 1.º Congresso Internacional, Mértola 13, 14 e 15 de maio de 2015 = Traditional architecture in the Western Mediterranean: 1st International Conference, Mértola 13th, 14th and 15th May 2015. Lisboa; Mértola: Argumentum; Campo Arqueológico de Mértola, 2015.

Cruz, C. F. Fazendas do sul de Minas Gerais: arquitetura rural nos séculos XVIII e XIX. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2010.

D’Ors, E. Lo Barroco. Madrid: M. Aguilar, 1936.

Derntl, M. F. Método e arte: urbanização e formação territorial na capitania de São Paulo, 1765-1811. São Paulo:

Alameda; Fapesp, 2013.

Donato, L. A cidade portuguesa nas províncias ultramarinas: uma análise iconográfica comparativa: Ilha de Moçambique, Goa, Salvador, Macau e Luanda. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

Fernandes, J. M. Índia e Sul do Brasil: planos do urbanismo português no século XVIII. In: Araujo, R.; Carita, H.

(org.). Universo urbanístico português 1415-1822: colectânea de estudos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998. p. 243-254.

Fletcher, B. History of architecture on the comparative method. 17. ed. New York: Charles Scribner’s Sons, 1961.

Florentino, R. et al. Dimensões tradicionais do projeto urbano em cidades portuguesas: do terramoto à república. In: Lourenço, P. B. et al. (org.). Ambientes em mudança: 4.º Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira. Guimarães: Universidade do Minho, 2023. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1SvU-hrDLtBhJUj7SwOXITxOchExBbJtT/view?usp=sharing. Acesso em: 27 set. 2023.

França, J.-A. O pombalismo e o romantismo. Lisboa: Presença, 2004.

García Hermida, A. (org.). Um projecto de futuro para a Beirã (Marvão): baseado na arquitectura e urbanismo de tradição alentejana. Lisboa: Fundação Serra Henriques, 2018.

García Hermida, A.; Gil Fernández, G.; Gómez-Gordo Villa, R. (org.). Um projecto de futuro para Lajes do Pico: com base na arquitectura e urbanismo da tradição local. Lisboa: Fundação Serra Henriques, 2023.

Giedion, S. Space, time and architecture: the growth of a new tradition. 4. ed. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1961.

Gonzaga Duque, L. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

Goodwin, P. L.; Smith, G. E. K. Brazil Builds: architecture new and old 1652-1942. 2. ed. New York: The Museum of Modern Art, 1943.

Grammont, G. Aleijadinho e o aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

Haupt, A. Die Baukunst der Renaissance in Portugal: von den Zeiten Emmanuel’s des Glücklichen bis zu dem Schlusse der spanischen Herrschaft. Frankfurt am Main: Heinrich Keller, 1890.

Hobsbawm, E. J.; Ranger, T. O. The invention of tradition. Cambridge; New York: Cambridge University Press, 1983.

Kubler, G. Portuguese plain architecture: between spices and diamonds, 1521-1706. Middletown: Wesleyan University Press, 1972.

Kubler, G.; Soria, M. Art and architecture in Spain and Portugal and their American dominions, 1500 to 1800. London: Penguin, 1959.

Leal, J. Etnografias portuguesas (1870-1970): cultura popular e identidade nacional. Lisboa: Dom Quixote, 2000.

Lemos, C. A. C. A república ensina a morar (melhor). São Paulo: Hucitec, 1999.

Lino, R. A nossa casa: apontamentos sobre o bom gosto na construção das casas simples. Coimbra: Atlântida, 1918.

Lino, R. A casa portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional, 1929.

Lopes, J. B. Planta topográfica da cidade de Coimbra. [S.I.:s.n.], 1934.

Machado, L. G. Barroco mineiro. São Paulo: Edusp; Perspectiva, 1969.

Marianno Filho, J. À margem do problema arquitetônico nacional. Rio de Janeiro: Mendes Junior, 1943.

Martins, N. M. O partido arquitetônico rural no século XIX: Porto Feliz, Tietê, Laranjal Paulista. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978.

Mascarenhas, J. Reabilitação urbana. Lisboa: Horizonte, 2012.

Mascarenhas, J. Arquitectura popular portuguesa. Lisboa: Horizonte, 2015.

Mascarenhas-Mateus, J. Técnicas tradicionais de construção de alvenarias: a literatura técnica de 1750 a 1900 e

o seu contributo para a conservação de edifícios históricos. Lisboa: Horizonte, 2002.

Mascarenhas-Mateus, J. (org.). História da construção em Portugal: consolidação de uma disciplina. Lisboa: By the Book, 2018.

Mello, J. Ricardo Severo: da arqueologia portuguesa à arquitetura brasileira. São Paulo: Annablume, 2007.

Milheiro, A. V. A construção do Brasil: relações com a cultura arquitectónica portuguesa. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 2005.

Moutinho, M. Arquitectura popular portuguesa. Lisboa: Estampa, 1995.

Oliveira, E. V.; Galhano, F. Arquitectura tradicional portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

Ollero, R. E depois do inquérito à arquitectura regional portuguesa? Carta a Raul Lino. Revista Arquitectura Lusíada, n. 1, p. 39–52, 2010.

Palazzo, P. P. Vernacular patterns in Portugal and Brazil: evolution and adaptations. Journal of Traditional Building, Architecture and Urbanism, n. 2, p. 359–370, 2021.

Pareto Junior, L. O cotidiano em construção: os práticos licenciados em São Paulo (1893-1933). Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, [s.I.], 2011.

Pareto Junior, L. Pândegos, rábulas, gamelas: os construtores não diplomados entre a engenharia e a arquitetura (1890-1960). Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, [s.I.], 2016.

Patetta, L. L’architettura dell’eclettismo: fonti, teorie, modelli 1750-1900. Milano: G. Mazzotta, 1975.

Pessotti, L.; Ribeiro, N. P. (org.). A construção da cidade portuguesa na América. Rio de Janeiro: PoD, 2011.

Pevsner, N. An outline of European architecture. New and enlarged edition. London: John Murray, 1948.

Pinto, S. M. G. A regulação jurídica das fachadas em Portugal (séc. XIV–XIX). Revista de Estudios Histórico-Jurídicos, n. 38, p. 149–177, 2016.

Pinto, S. M. G. As interações no sistema das operações urbanísticas nos espaços urbanos portugueses até meados de oitocentos. Tese (Doutoramento em Arquitectura) – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012.

Pinto, S. M. G. “Portugal plantou a mais duradoira de suas conquistas”. Da antiga tradição jurídica para a atividade construtiva em Portugal e no Brasil: inovação e permanência em perspetiva comparada. Anais de História de Além-Mar, v. 16, p. 369-405, 2015.

Rapoport, A. House form and culture. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1969.

Reis, L. A liberdade que veio do ofício: práticas sociais e cultura dos artífices na Bahia do século XIX. Salvador: Editora UFBA, 2013.

Richter, G. M. Manierismus. The Burlington Magazine for Connoisseurs, v. 58, n. 337, p. 202-203, 1 abr. 1931.

Rocha-Peixoto, G. Reflexos das luzes na terra do sol: sobre a teoria da arquitetura no Brasil da Independência, 1808-1831. São Paulo: ProEditores, 2000.

Rossa, W. Fomos condenados à cidade: uma década de estudos sobre património urbanístico. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015.

Schlee, A. R. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil: inventario de contenidos. Revista PH, p. 200-209, 2018.

Severo, R. A arte tradicional no Brasil: a casa e o templo. São Paulo: Tip.Levi, 1916.

Shanklin, E. Two meanings and uses of tradition. Journal of Anthropological Research, v. 37, n. 1, p. 71-89, 1981.

Silva Neto, E. A. Panorama da arquitetura em Goiás: séculos XVIII, XIX e XX. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Brasília: Universidade de Brasília, 2022.

Silveira, Â. C. A Casa-Pátio de Goa. Porto: Facultade de Arquitectura da Universidade de Porto, 1999.

Sousa, A. J. Arquitetura neoclássica brasileira: um reexame. São Paulo: Pini, 1994.

Sousa Santos, E. History becoming theory: George Kubler and Portuguese plain. Architecture and Culture, v. 4, n. 3, p. 425434, 2016.

Speltz, A. A architectura classica no Brazil: Novo Vinhola brazileiro ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1898.

Tavares, D. Casas de Brasileiro: erudito e popular na arquitectura dos torna-viagem. Porto: Dafne, 2015.

Unamuno, M. En torno al casticismo. Madrid: Barcelona: Fernando Fé; Antonio López, 1902.

Vasconcellos, S. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1979.

Vellinga, M. The inventiveness of tradition: vernacular architecture and the future. Perspectives in Vernacular Architecture, v. 13, n. 2, p. 115-128, 2006.

Waisman, M. El interior de la historia: historiografía arquitectónica para uso de latinoamericanos. 2. ed. Bogotá: Escala, 1993.

Watson, W. C. Portuguese architecture. London: A. Constable and Company, 1908.

Weimer, G. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Wölfflin, H. Renaissance und Barock: eine Untersuchung über Wesen und Entstehung des Barockstils in Italien. München: T. Ackermann, 1888.

Downloads

Publicado

2025-02-06

Como Citar

Palazzo, P. P. (2025). Repensar a periodização da construção vernacular luso-brasileira: ou, como a nossa arquitetura tradicional é mais recente do que parece. Oculum Ensaios, 22, 1–19. https://doi.org/10.24220/2318-0919v22e2025a10654

Edição

Seção

Originais