A propósito do universal deprimente

estudo de um caso de resistência ameríndia à captura biomédica

Autores

Palavras-chave:

Etnopsicologia, Povos indígenas, Saúde de populações indígenas, Saúde mental

Resumo

Objetivo
Em meio a investidas assimilacionistas, os Xavante determinaram a migração de crianças para Ribeirão Preto/SP, no intuito de estudarem os brancos. Um dos protagonistas recentes desse intercâmbio experienciou intenso sofrimento psíquico, diagnosticado e tratado pela medicina branca. Apresentou melhoras expressivas, contudo, somente quando retornou em definitivo à aldeia de origem. Objetivou-se, nesse contexto, ultrapassar a narrativa biomédica canônica, evidenciando como a consideração de múltiplas formas de “tradução” permite vislumbrar um fenômeno indígena em sua complexidade.
Método
Para esse efeito, foram analisadas dez entrevistas não estruturadas realizadas com o jovem e alguns de seus principais interlocutores no meio urbano (família de acolhimento, colegas de escola, espaço religioso).
Resultados
Emergiram narrativas plurais que incidem sobre o vivenciado, suprimidas pela discursividade universalizante biomédica.
Conclusão
O jovem experienciou um processo de negociação entre universos de significação, cuja síntese culminou no fortalecimento da autoafirmação Xavante e na apropriação de uma voz própria, de permeio às demais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Assembleia Legislativa de São Paulo (2013, January 14). Ribeirão Preto surgiu como povoamento Caiapó-Bandeirante e rota para Goiás. Alesp. https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=332308

Bairrão, J. F. M. H. (2017). Protagonismo epistêmico dos povos indígenas: o papel da etnopsicología. Psicologia para América Latina, (Special), 53-62.

Bairrão, J. F. M. H. (2011). Nominação e agência sem palavras: o audível não verbal num transe de possessão. In F. V. Bocca, F. Caropreso, & R. T. Simanke (Orgs.), O movimento de um pensamento: ensaios em homenagem a Luiz Roberto Monzani (pp. 155-172). Editora CRV.

Bairrão, J. F. M. H. (2015). Etnografar com Psicanálise. Psicologias de um ponto de vista empírico. Cultures-Kairós. Anthropologie et Psychanalyse: Débats et Pratiques. https://dx.doi.org/10.56698/cultureskairos.1197

Carneiro da Cunha, M. (1999). Xamanismo e tradução. In A. Novaes (Org.), A outra margem do ocidente (pp. 223-235). Companhia das Letras.

Carrara, E. (2002). Um pouco da educação ambiental Xavante. In A. Lopes da Silva (Org.), Crianças indígenas: ensaios antropológicos (pp. 100-116). FAPESP.

Carrara, E. (2010). Metamorfose A’uwê (Xavante): o álcool e o devir do sentimento coletivo [Unpublished doctoral dissertation]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Franca, B. (2006). Estratégia Xavante [Video]. Vimeo. https://vimeo.com/216711158

Fernandes, E. R. (2010a). Do Tsihuri ao Waradzu: o que as ideologias xavante de concepção, substância e formação da pessoa nos dizem sobre o estatuto ontológico do outro? Horizontes Antropológicos, 16(34), 453-77.

Fernandes, E. R. (2010b). Cosmologias indígenas, exterioridade e educação em contexto culturalmente diferenciado: um olhar a partir dos Xavante, MT. Tellus, 10(19), 97-110.

Fernandes, E. R. (2012). “Eles querem é nos por na briga deles!”: Um estudo de caso sobre faccionalismo e estratégias entre os índios Xavante (MT). Campos - Revista de Antropologia, 13(1), 23-39. http://dx.doi.org/10.5380/cam.v13i1.30874

Fernandes, E. R. (2013). Contexto e corporalidade nas pesquisas em educação indígena: algumas reflexões. CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, 7(15), 54-60.

Fernandes, E. R. (2015). Alimentação, corporalidade e doença: regimes de subjetivação do outro a partir de um estudo entre os índios Xavante (Mato Grosso, Brasil). Tessituras, 3(2), 301-24. https://doi.org/10.15210/tes.v3i2.5922

Fernandes, F. O. P., & Calegare, M. G. A. (2018). Psicologia e povos indígenas: breves apontamentos sobre as produções em psicologia e a constituição da pessoa Yepa Mahsã. In M. G. A. Calegare & R. Albuquerque (Orgs.), Processos psicossociais na Amazônia: reflexões sobre raça, etnia, saúde mental e

educação (pp. 84-107). Alexa Cultural.

Ferreira, L. O. (2011). Jurupari ou “visagens”: reflexões sobre os descompassos interpretativos existentes entre os pontos de vista psiquiátrico e indígenas. Mediações, 16(2), 249-265.

Garnelo, L. (2011). Aspectos socioculturais de vacinação em área indígena. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 18(1), 175-190.

Gordon, C. (2014). Os Xavante e suas circunstâncias. In C. E. A. Jr. Coimbra & J. R. Welch (Orgs.), Antropologia e História Xavante em perspectiva (pp. 11-15). Museu do Índio – Funai.

Guimarães, D. S. (2021) Psicologia Indígena: multiplicando diálogos. In M. Calegare, P. R. Suárez, G., P. A. Pérez, & L. E. L .Romero (Orgs.), Por los caminos de las psicologias ancestrales nativoamericanas (Vol. 1, pp. 27-49). EDUA.

Izaguirre, G. (2011). Elogio ao DSM-IV. In A. Jerusalinky & S. Fendrik (Orgs.), O livro negro da psicopatologia contemporânea (pp. 13-22). Via Lettera.

Jorge, R. S. (2020). Natureza e espiritualidade em um centro espírita kardecista [Unpublished master’s dissertation]. Universidade de São Paulo.

Lopes da Silva, A. (1983). Xavante: Casa-Aldeia-Chão-Terra-Vida. In S. Novaes (Org.), Habitações Indígenas. Livraria Nobel.

Lopes da Silva, A. (1992). Dois séculos e meio de História Xavante. In M. Carneiro da Cunha (Org.), História dos índios no Brasil. Companhia das Letras.

Lopes da Silva, A. (2014). Praticas Sociais e ontologia na nominação e no mito dos Akwẽ- Xavante. In C. E. A. Jr. Coimbra & J. R. Welch (Orgs.), Antropologia e História Xavante em perspectiva (pp. 107-122). Museu do Índio – Funai.

Lutz, C. (1985). Ethnopsychology compared to what? Explaining behavior and consciouness among the Ifaluk. In G. M. White & J. Kirkpatrick (Orgs.), Person, self and experience exploring Pacific ethnopshychologies. University of California Press.

Macedo, A. C., Bairrão, J. F. M. H., Mestriner, S. F., & Mestriner Junior, W. (2011). Ao encontro do Outro, a vertigem do eu: o etnopsicólogo em equipes de saúde indígena. Revista da SPAGESP, 12(2), 85-96.

Marcondes, D. (2009). Apresentação da edição brasileira. In F. Jullien (Org.), O diálogo entre as culturas: do universal ao multiculturalismo. Zahar.

Mariani, B. (2014). Nome próprio e constituição dos sujeitos. Letras, 48, 131-141.

Nunes, E. S. (2010). Aldeias urbanas ou cidades indígenas? Reflexões sobre índios e cidades. Espaço Ameríndio, 4(1), 9-30.

Oliveira, F. M. C. (2006). A relação entre homem e natureza na pedagogia Waldorf [Unpublished master’s dissertation]. Universidade Federal do Paraná.

Rocha, C. (2020). Estudo sistematizado da doutrina espírita: programa fundamental. FEB.

Seeger, A., Da Matta, R., & Viveiros de Castro, E. (1987). A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. In J. P. Oliveira Filho. Sociedades Indígenas e Indigenismo no Brasil (pp. 11-29). Ufrj/Marco Zero.

Silva, L. C., Carvalho, I. S., & Chatelard, D. S. (2017). Considerações sobre a noção de nome próprio em Lacan: entre o significante e a letra. Cadernos de Psicanálise, 39(36), 161-174.

Soares, J. (2008). Aspectos comuns da organização social Kaingang, Xavante e Bororo. Espaço Ameríndio, 2(1), 44-67.

Strathern, M. (2014). O efeito etnográfico. In F. Ferrari (Ed.), O efeito etnográfico e outros ensaios. Cosac Naify.

Toral, A. A. (1986). “Xavantaço ou Funailaço?”. In Centro Encumênico de Documentação e Informação. Aconteceu (pp. 344-47). CEDI. [Povos Indígenas no Brasil – 85/86, Especial 17]. https://acervo.socioambiental. org/acervo/livros/povos-indigenas-no-brasil-1985-1986

Viveiros de Castro, E. (1992). O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem. Revista de ntropologia, 35, 21-74. ttp://dx.doi.org/10.11606/2179- 0892.ra.1992.111318

Publicado

2024-06-17

Como Citar

Campos, M. C., & Bairrão, J. F. M. H. (2024). A propósito do universal deprimente: estudo de um caso de resistência ameríndia à captura biomédica. Estudos De Psicologia, 41. Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/estpsi/article/view/13457

Edição

Seção

Dossiê | Perspectivas em Psicologia Indígena no Brasil: desafios éticos e epistemológicos