As relações entre deficiência visual congênita, condutas do espectro do autismo e estilo materno de interação

Autores

  • Ana Delias de SOUSA Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Cleonice Alves BOSA Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Cristina Neves HUGO Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Palavras-chave:

autismo, brinquedo simbólico, estereotipias, relações mãe-criança

Resumo

Este trabalho examina a possível ocorrência das condutas do espectro do autismo em crianças portadoras de deficiência visual congênita e focaliza os comprometimentos da habilidade de atenção compartilhada, da capacidade simbólica e de estereotipias motoras, além de investigar o estilo diretivo de interação das mães ao tentar engajar os seus filhos em brincadeiras. Participaram do estudo oito díades mãe-criança distribuídas em dois grupos: quatro com deficiência visual congênita e quatro com desenvolvimento típico. Realizou-se uma entrevista sociodemográfica e de desenvolvimento da criança com as mães e uma sessão de vídeo da interação mãe-criança em laboratório. Os resultados mostraram que duas das crianças com deficiência visual congênita apresentaram uma freqüência maior de comprometimentos de habilidade de atenção compartilhada comparadas às crianças com desenvolvimento típico, e duas crianças com deficiência visual congênita apresentaram estereotipias motoras, porém com baixa freqüência. Apenas uma das mães das crianças com deficiência visual congênita apresentou maior freqüência de diretividade materna comparada à mãe da criança com desenvolvimento típico, contrariando a expectativa inicial. Observou-se a ocorrência de brinquedo simbólico no grupo das crianças com deficiência visual congênita. Esses resultados contrariam algumas das expectativas da literatura. Conclui-se que as crianças com deficiência visual congênita não estão necessariamente em risco para desenvolver condutas do espectro do autismo.

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Publicado

2005-12-31

Como Citar

SOUSA, A. D. de ., BOSA, C. A., & HUGO, C. N. . (2005). As relações entre deficiência visual congênita, condutas do espectro do autismo e estilo materno de interação. Estudos De Psicologia, 22(4). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/estpsi/article/view/6764