O "menino de rua" entre o sombrio e a aberrância da exclusão social

Autores

  • Sheva Maia da NÓBREGA Universidade Federal de Pernambuco
  • Taciana Alves de LUCENA Universidade Federal de Pernambuco

Palavras-chave:

representações sociais, identidade social, menino de rua, exclusão social, estudantes universitários

Resumo

Esta pesquisa visa analisar as representações que os "meninos de rua" elaboram sobre si mesmos confrontadas às representações que estudantes universitários em formação profissional em ciências sociais, constroem sobre os "meninos de rua". Utilizamos o multimétodo, qualitativo e quantitativo, para coleta e análise de dados. Aplicamos o teste de associação livre a uma amostra de 178 sujeitos, organizados em dois grupos ("meninos de rua" e estudantes universitários) distintos por sexo e idade. Os dados coletados foram processados através do soft Tri-Deux Mots, e foi realizada a análise fatorial de correspondência entre os dois grupos sobre um total de 2.535 palavras. A metodologia consta também de entrevistas em profundidade e semi-estruturadas realizadas com sujeitos de ambos os grupos. Os resultados revelam uma oposição representacional quanto ao conteúdo e à estrutura entre os "meninos de rua" e os estudantes universitários. No que concerne à estrutura da representação, graficamente fica revelado que ambos os grupos se colocam em posições de distanciamento com relação ao "menino de rua". Quanto ao conteúdo, os estudantes universitários constroem uma representação política e psicossocial a respeito do "menino de rua". No que concerne aos "meninos de rua" que entrevistamos, existe uma nítida diferenciação entre a identidade que eles constroem de si mesmos e a representação que elaboram a respeito dos "meninos de rua". É atribuída a esses últimos uma ação de criminalidade e marginalidade. Os resultados evidenciam a tese de que "a necessidade de se diferenciar da minoria, para não ser assimilado a ela, é tanto mais necessária quanto mais se sente próximo a ela". Assim são representados os "meninos de rua" por eles próprios, com fortes tonalidades de violência e criminalidade vivenciadas no cotidiano, seja pela negligência governamental no incremento de políticas sociais, como representam os estudantes universitários, seja pela tênue separação entre a vida e a morte vivenciada pelo "menino de rua" que tenta driblar a possibilidade letal, deslizando como equilibrista sobre o fio da navalha cortante do seu cotidiano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Abric, J.-C. (1994). Pratiques Sociales et représentations Paris: PUF.

Abric, J.-C. (1996). Exclusion sociale, insertion et prévention. Saint-Agne: Editions Erès.

Abric, J.-C. (2003). Méthodes d'études des représentations sociales Ramonville: Ed. Erès.

Bardin, L. (1989). Líanalyse de contenu 5ed. Paris: PUF.

Berger, P., & Luckmann, T. (1989). La construction sociale de la réalité Paris: Meridiens Klincksieck.

Cheniaux, S. (1982). Trapaceados e trapaceiros: o menor de rua e o serviço social São Paulo: Cortez.

Cibois, P. (1991). L'analyse factorielle. Collections Qui sais-je? 3.ed. Paris: PUF.

De Rosa, A.S. (1988). "Sur l'usage des associations libres dans l'Ètude des représentations sociales de la maladie mentale". Connexions,51, 27-50.

De Rosa, A.S. (2003). Le "réseau d'associations": une technique pour détecter la structure, les contenus, les indices de polarité, de neutralité et de stéréotypie du champ sémantique liés aux représentations sociales. In J.C. Abric. Méthodes d'études des représentations sociales (p.81-117). Ramonville Saint-Agne: Éditions Ères 2003.

DOISE, W., & MUGNY, G. (1997). Psychologie Sociale & Développement Cognitif Paris: Armand Colin.

Fassin, D. (1996). Marginalidad et marginados. La construction de la pauvreté urbaine en Amérique Latine. In S. Paugam. L'exclusion: l'Ètat des savoirs Paris: Editions La Découverte.

Ferreira, R.M.F. (1979). Meninos de rua: expectativas e valores de menores margina-lizados em São Paulo São Paulo: IBREX.

Jodelet, D. (1989a). Les représentations sociales Paris: PUF.

Jodelet, D. (1989b). Folies et Représentations Sociales Paris: PUF.

Jodelet, D. (1996a). Les processus psycho-sociaux de l'exclusion. In S. Paugam. L'exclusion: l'Ètat des savoirs Paris: Editions La Découverte.

Jodelet, D. (1996b). Representations sociales de la maladie mentale et insertion des malades mentaux. In J.C. Abric. Exclusion sociale, insertion et prévention Saint-Agne: Editions Erès.

Jodelet, D. (1999). Os processos psicossociais da exclusão. In B. Sawaia. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social Petrópolis: Vozes.

Moscovici, S. (1961). La psychanalyse, son image et son public Paris: PUF.

Moscovici, S. (1979). Psychologie des minorities actives Paris: PUF.

Moscovici, S. (1987). Le déni. In S. Moscovici & G. Mugny.Psychologie de la conversion Suisse: Editions Deval.

Nobrega, S.M., & Coutinho, M.P.L. (2003). O teste de associação livre de palavras. In M.P.L. Coutinho, A.S. Lima, F.B. Oliveira & M.L. Fortunato. (Orgs.). Representações sociais: abordagem interdisciplinar João Pessoa: UFPB.

Paugam, S. (1996). L'exclusion: l'Ètat des savoirs Paris: Editions La Découverte.

Rosemberg, F. (1994). Crianças e adolescentes em situação de rua: do discurso à realidade Caxambu: Fundação Carlos Chagas.

Sá, C.P. (1998). A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: EDUERJ.

Sawaia, B. (Org.). (1999). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes.

Downloads

Publicado

2004-12-31

Como Citar

NÓBREGA, S. M. da ., & LUCENA, T. A. de . (2004). O "menino de rua" entre o sombrio e a aberrância da exclusão social . Estudos De Psicologia, 21(3). Recuperado de https://periodicos.puc-campinas.edu.br/estpsi/article/view/6710